Publicado na página do Le Monde Diplomatique
O pior efeito colateral da onipresença publicitária é a passividade da opinião pública diante dela. A sociedade de consumo impregnou-se tanto de propaganda que esta parece indissociável da própria experiência humana. “Tudo é publicidade”, máxima disseminada pela própria mídia, garante a perpétua reciclagem da indulgência. Tudo é história, tudo é física, tudo é moda: o estatuto universal da atividade depende da predisposição corporativa do observador. Tal simplificação, de evidente teor totalitário, pressupõe condicionantes publicitárias nos ambientes mais íntimos, como se fôssemos irresistivelmente dominados por forças exógenas, talvez imperceptíveis e alheias à nossa vontade. Tudo é manipulação.
A propaganda mantém uma relação paradoxal com a coletividade. Por um lado, nega responsabilidades sobre os produtos que ajuda a vender e sobre as mensagens que corrobora – ao menos quanto a conseqüências nefastas como a violência, a obesidade, a anorexia e vícios múltiplos. Ao mesmo tempo, ela reivindica uma utilidade social imanente, necessária à plena fruição da cidadania. É a versão mercantilista do direito constitucional à informação.
O equívoco da premissa evidencia-se nas metapropagandas, peças institucionais que fazem o elogio da própria publicidade. Sem esta, dizem, o consumidor compraria um imaginário produto “Tanto Faz”, como se logotipos, embalagens e enunciados contivessem verdades imprescindíveis; como se as relações de consumo implicassem uma liberdade de escolha real, entre todas as alternativas possíveis, e não apenas entre as que possuem recursos para investir na complexa e onerosa engrenagem midiática (leia o texto integral).
2 comentários:
A regulação da publicidade é um tabu nos meios de comunicação por ser a sua maior fonte de sustento. Porém, a responsabilidade social da publicidade na relação imagem-conteúdo do produto já existe na legislação nacional, como no código de defesa do consumidor. O que falta é a ampliação da discussão desta responsabilidade e o aprimoramento e esclarecimento destes conceitos junto a sociedade.
Muito bom, Guilherme.
Gostaria de saber a sua opinião sobre a campanha que a editora abril vem coemçando a fazer para " aliberdade de expressão na publicidade". Li a entrevista de um parlamentar na revista e quase tive vontade de vomitar.
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