Há meio século, enquanto a seleção de Garrincha, Zagalo, Didi e Pelé conquistava o primeiro título mundial do futebol brasileiro, Miles Davis levava sua banda para uma turnê pelos EUA. O sexteto reunia alguns dos maiores virtuoses da época: o pianista Bill Evans, o sax-tenorista John Coltrane, o sax alto Cannonball Adderley, o baixista Paul Chambers e o baterista Jimmy Cobb.
Alguns meses depois, no início de 1959, eles gravariam o álbum “Kind of blue”, no mítico estúdio da Columbia, na Rua 30, Nova Iorque. O livro homônimo do estudioso Ashley Kahn aborda em minúcias as sessões de gravação, construindo um painel histórico da cena jazzística da época, com esboços biográficos dos envolvidos.
Apesar da importância do disco, só venci a resistência ao livro quando notei que ele possuía mais do que apenas uma diagramação arrojada e belas imagens. Kahn de fato conhece o assunto e realiza uma contextualização honesta, principalmente conferindo à genialidade recatada e modesta de Bill Evans a importância devida.
É impagável ouvir as gravações em disco e ao mesmo tempo ler os diálogos registrados nos intervalos, conhecer os equipamentos utilizados, os técnicos envolvidos e outros detalhes. Faltou apenas incluir um apêndice explicativo sobre rudimentos da teoria musical, para que o leigo não tenha a impressão eventual de ler sobre física quântica em iídiche. Kahn até arrisca algum esclarecimento, mas, como em quase todas as obras similares, o esforço resulta insuficiente.
"So what" ("e daí?", expressão muito usada por Davis) abre o disco.
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