O Cáucaso vive em estado quase intermitente de combate desde a tentativa autonomista da Chechênia, massacrada com requintes de crueldade pelo neo-czar Vladimir Putin. A ofensiva russa contra a Geórgia repete aquele circo de horrores, com o agravante de envolver diretamente um aliado dos EUA e da Europa.
Ao contrário da maioria das repúblicas da Comunidade dos Estados Independentes (ex-URSS), a Geórgia é uma potência regional, estrategicamente localizada entre a Rússia e o Oriente Médio, a distância navegável do Mediterrâneo. Os governos ocidentais apóiam ali um regime simpático a seus interesses e, por extensão, antagonista da agenda russa.
Bush e aliados sempre fizeram vistas grossas ao combate do governo georgiano contra os separatistas da Ossétia do Sul e da Abcásia, que recebem financiamento e infra-estrutura de Moscou. Ninguém realmente se interessa pelas vidas perdidas nos conflitos. Trata-se da mesma trincheira geopolítica, enfeitada com os discursos vazios da ONU, que levou à catástrofe dos Bálcãs há 15 anos.
Eis um bom teste para a integridade moral dos propagandistas da independência tibetana da China. Os bravos guerreiros de Ossétia e Abcásia merecem decidir os rumos de suas regiões ou não passam de mercenários tenebrosos contratados por um tiranete? Os defensores da causa do Dalai Lama estenderão essa solidariedade para os interesses de Putin e suas quadrilhas de assassinos? Ou preferirão argumentar que a própria Geórgia luta por independência do jugo russo e que, portanto, em certos casos, veja bem, o desejo autonomista não tem validade? E, nesta hipótese (como quanto ao Tibete), fornecerão de bom grado munição ideológica para os anseios de George W. Bush e seus comparsas petroleiros?
Não. É mais fácil vomitar ataques genéricos aos horrores da guerra e encenar o silêncio constrangido dos pacifistas de ocasião. Postura muito cômoda, idêntica à que produziu a omissão ocidental perante as atrocidades de Kosovo.
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