As urnas nem haviam sido apuradas e o assunto desapareceu do noticiário. Mas não era para menos: Evo Morales venceu o referendo revogatório boliviano.
A confirmação dos governadores nos respectivos departamentos era previsível, como também foi a do presidente da República. A queda de dois adversários e um aliado pouco representa no cômputo geral da disputa em curso, apesar do importante precedente aberto pela consulta. Mas, claro, as atenções concentravam-se em Morales.
A oposição boliviana e a imprensa brasileira transformaram o referendo numa gigantesca pesquisa de popularidade e se deram muito mal. A votação atingida por Morales, cerca de 67%, ultrapassa em treze pontos percentuais o índice recebido na eleição de 2005. Mesmo nos rincões oposicionistas mais radicais, Morales incrementou sua base de apoio. Em Santa Cruz, por exemplo, ele obteve 41% dos votos, contra os 33% recebidos pelo MAS (movimento ao Socialismo, partido governista) nas eleições presidenciais de 2005. O departamento é governado pelo infame Rubén Costas, que já chamou o presidente de “macaco”. Ou seja: Morales conquistou 8% a mais de apoio no berço do separatismo, em plena batalha autonomista.
A oposição a Morales é golpista de verdade, sem os meios-termos ou a dissimulação dos reacionários brasileiros. O estopim formal da crise boliviana nasceu numa lei do governo federal, que destina os recursos do tributo sobre hidrocarbonetos para programas de auxílio a idosos. Mas, se a questão específica revela muito sobre o caráter humanista dos adversários de Morales, eles poderiam ter usado qualquer outro motivo para tentar derrubá-lo. Sua motivação é de natureza diversa, e bem menos confessável.
Um comentário:
Morales faz o que Lula deveria ter feito em seu primeiro mandato, apoia-se em sua força popular pra enfrentar a elite político-econômica e implementar reformas de base.
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