A quantidade de comentários sobre o assunto leva-me a ele novamente, pela última vez. A discussão caducou, mas suas distorções ainda aguardam respostas.
Empreendi uma extensa viagem pela blogosfera, encontrando todo tipo de reação à propaganda de Marta Suplicy. A grande maioria dos bons analistas condena a peça, mas salienta a hipocrisia da mídia na cobertura do caso. Esta é a postura mais ponderada e cômoda e, se quisesse evitar riscos, adotá-la-ia também. Mas o refúgio no politicamente correto leva à aceitação de certa leitura hegemônica e tendenciosa sobre o episódio.
Não estou convencido da venalidade absoluta das perguntas “É casado? Tem filhos?”, considerando o contexto em que apareceram. Discordo da afirmação inequívoca do tom discriminatório delas, porque foram descontextualizadas. A história de que os líderes do PT condenaram a propaganda embute má-fé: qualquer entrevistado rechaçaria a pecha de homofóbico, desde que esta fosse a premissa do questionamento.
Quando lembramos as inúmeras devassas mal-intencionadas realizadas por imprensa e adversários nas intimidades de candidatos petistas, surgem duas falácias: a da “coerência biográfica” (a vítima não pode imitar seus algozes) e a da “evolução democrática” (esse passado tenebroso foi superado). Babação eleitoreira. Todo tipo de preconceito continua sendo vomitado contra a própria Marta Suplicy, sob o pretexto de recordar seus padecimentos ou de exemplificar o que poderia estar sendo veiculado sobre ela, mas “não é” – claro que é, já que essas histórias são de fato repetidas.
Discutir se a “opção” sexual do candidato deve ser propalada ou se tem importância é um estratagema velhaco para simplificar outras questões contundentes. As supostas relações afetivas entre Kassab e um secretário seu (insinuadas por muita gente séria), caso verdadeiras, possuem relevância política. Abordar esse detalhe espinhoso forçaria a uma passagem pelo tema do homossexualismo, independente de homofobias, mas o mito da intolerância petista surgiu milagrosamente para desviar as atenções.
O mesmo ocorreu quanto a aspectos mais alarmantes do ambiente sucessório. O imbróglio sexual foi superdimensionado pela militância kassabista porque todos se constrangem ao lembrar a biografia política do prefeito. E é impossível tratar como trivialidade a hipocrisia jornalística às vésperas das eleições que trarão Orestes Quércia e Paulo Maluf de volta à maior cidade do país.
3 comentários:
Guilherme,achei sensato a tua abordagem. Vou publicar no blog DESABAFO BRASIL. e na oportunidade, peço o teu apoio para divulgar o novo vídeo: SERRA E KASSAB, A MÁFIA PAULISTA. O endereço do Yuotube:
http://br.youtube.com/watch?v=tOQxrd5JiXc
Um grande abraço, Daniel – editor do blog Desabafo País (Brasil):
http://desabafopais.blogspot.com/
Diria que babação eleitoreira é supor que os líderes do PT condenaram a infeliz peça publicitária como que induzidos pelas "premissas dos questionamentos" que lhes foram dirigidos. Eles tem discernimento e inteligência para mais do que isso.
Acho estranho o texto terminar com o lamento da volta de Maluf e Quércia ao comando da maior cidade do País. Não faz muito tempo, o PT emporcalhou a cidade (tanto no sentido visual quanto no sentido político) com outdoors de seus candidatos ao lado de Maluf, além da vergonhasa chapa "Mercadante-Quércia" ao Senado, em detrimento do candidato Wagner Gomes ao Senado, do PC do B.
O fato é que nem Marta nem Kassab tem algo a dizer aos eleitores. A verdade é essa. Eles tem muito compromisso com o poder e nenhum com a sociedade. Na falta do que dizer, repetem jargões publicitários, promessas mirabolantes e frases feitas.
Paulistano é assim mesmo. Roda, roda, roda, mas sempre acaba malufando. Ainda que seja indiretamente. Caso perdido.
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