quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Balanço eleitoral

Seguindo a tendência iniciada após o primeiro turno, comentaristas políticos tentam consagrar suas teses preferidas sobre as eleições municipais: vitórias isoladas de José Serra e do PMDB, estagnação do PT, derrota simbólica do governo federal como prenúncio de 2010. Mas a plausibilidade dessas análises está sujeita às paixões do observador. Os fatos permitem conclusões diferentes para cada uma das premissas.

José Serra – Venceu em São Paulo e alguns centros regionais. Pouco mais que isso. O governador investiu prestígio pessoal e estrutura em outros colégios importantes do Estado, sem o mesmo sucesso: seus candidatos perderam em Bauru, Ribeirão Preto, Campinas, Guarulhos, Osasco, São Bernardo do Campo e Diadema. Geraldo Alckmin derreteu, mas Aécio Neves confirmou seu prestígio na capital, em Juiz de Fora e numa constelação de pequenas cidades mineiras. Márcio Lacerda obteve em Belo Horizonte quase a mesma porcentagem de Kassab em São Paulo.

PT – Campeão nas grandes cidades, foi o partido que mais cresceu em quantidade de prefeituras conquistadas. Divide com o PMDB a liderança dos votos totais para prefeito e o maior número de capitais, seis cada um, além de compor chapas vitoriosas em outras quatro. Não regrediu nos rincões e avançou nas regiões metropolitanas.

Governo federal – Nas eleições municipais de 1996, a imprensa alardeou uma vitória da coligação governista, incluindo nos cálculos o PMDB. Hoje não há motivo para um enfoque diferente. Como FHC, Lula também evitou melindrar concorrentes peemedebistas, em detrimento dos próprios aliados. Os grandes sucessos dos partidos coligados só foram possíveis porque o presidente abriu mão de enfrentar disputas locais. Ainda que a estratégia pareça discutível, ela terminou vitoriosa. A base governista vai administrar cerca de 3500 municípios, totalizando 90 milhões de brasileiros (72% do eleitorado total), cerca de três vezes mais do que a oposição. São 20 das 26 capitais.

Oposição – É a maior derrotada. DEM, PSDB e PPS perderam, juntos, mais de cinco milhões de votos em relação a 2004. Deixaram o poder em 350 cidades, uma queda de 20%. O DEM sofreu derrotas históricas na Bahia de ACM, no Rio de Janeiro de César Maia e em Santa Catarina, reduto dos Amin e dos Bornhausen. O PSDB amargou reveses consideráveis no Ceará de Tasso Jereissati, no Rio Grande do Sul de Yeda Crusius e nas maiores cidades do interior mineiro, vencidas pelo PT.

2010 – O cenário sucessório continua imprevisível. Serra não termina com a força que seus militantes desejam. Aécio continua no páreo. O triunfo estratégico na capital paulistana resultou em dívidas políticas que influenciarão as delicadas articulações futuras. Em 1996, a imprensa considerava que a vitória de Celso Pitta fazia de Paulo Maluf um candidato competitivo para a presidência da República. Dois anos depois, Maluf perdia para Covas o governo estadual.
Uma aliança para a sucessão presidencial entre Lula e PMDB começou a materializar-se. Muitos caciques peemedebistas ora vitoriosos são devedores do presidente, e serão ainda mais, após as eleições no Congresso. As derrotas pessoais de Ciro Gomes em seus redutos o enfraquecem nessa disputa, abrindo caminho para outros arranjos.
E a prudência recomenda não menosprezar a capacidade aglutinadora de Lula, caso sua popularidade se mantenha nos níveis atuais.

3 comentários:

Ricky Mascarenhas disse...

Todos esquecem que Lula era carta fora do baralho nas eleições em 2006, e taí a resposta. Agora se prever que Serra será presidente em 2010, por causa de alguma vitorias este ano, chega a ser demais

Anônimo disse...

Scalzilli, os adeptos do clima "já-acabou-o-governo-Lula" estão desesperados. Se Obama se eleger nos EUA, terão que passar as férias em outro país menos democrático, já que na América "tá tudo dominado, tá tudo dominado".

Anônimo disse...

Não creio que ele venha a ser o presidente com facilidade, mas não há outro grande nome para disputar com Serra.
Acho Serra um frangote. conversa fiada e tudo mais. entre ele e o Lula, fico com nenhum.
Ideologias à parte, nada mudará independentemente de quem for o paspalho eleito na próxima eleição.

Marcus