A indignação midiática sobre a pretensa homofobia da propaganda de Marta Suplicy tem a esperteza da marquetagem eleitoral. A provocação em torno da biografia de Gilberto Kassab foi reduzida à pergunta sobre seu estado civil e, por extensão, transformada em patrulha sexual. Os adversários de Kassab ganharam a pecha de homofóbicos e ele escapou de maiores esclarecimentos.
Mas, vítima das contradições da hipocrisia, a militância kassabista comete um deslize: foge da idéia de homossexualidade como se ela fosse motivo de vergonha para qualquer pessoa. Uma “insinuação maldosa”, segundo o próprio candidato.
Kassab é gay? Então, pelo bem da causa GLTB e da educação do eleitorado, ele deveria assumir-se publicamente. Kassab não é gay? Pois, caso tampouco seja homofóbico, tem a chance de proferir um belo discurso a favor da tolerância e passar por cima dessas trivialidades. Só não vale agir como se o tivessem chamado de ladrão.
Convém sempre desconfiar das intenções de quem tenta determinar o que é relevante numa disputa eleitoral. Esconde-se nessa atitude o germe do despotismo esclarecido, cuja versão modernizada gerou a paranóia politicamente correta. Quem decide a pauta da campanha é o eleitorado. Seu interesse em bobagens de alcova pode ser lamentado, mas nunca reprimido ou estigmatizado.
A falsa questão da homossexualidade ganhou importância por causa da reação esperta (e homofóbica) dos kassabistas. Se eles achassem o assunto realmente subalterno, não o utilizariam como peça de propaganda para vitimizar seu candidato. E se estivessem imbuídos de verdadeiro espírito democrático, não propagariam esse falacioso purismo do administrador técnico alheio a subjetividades e paixões. É óbvio que a “vida pessoal” do político interfere na sua rotina profissional. A preservação da intimidade não é prerrogativa daqueles que almejam a vida pública.
Quanto mais incômoda parece a transparência, mais necessária ela fica.
16 comentários:
Excelente!
O que me deixa estarrecido é que o povo de São Paulo é esclarecido. Bom, deveria ser, afinal, é a maior cidade do País e da América Latina.
Pelo contrário, os eleitores das grandes cidades são os mais conservadores e menos esclarecidos da Nação. Pegue-se como exemplo o Rio de Janeiro. Levou ao segundo turno os dois únicos candidatos à prefeito que não possuem programa de governo definido. São Paulo não fica muito distante com Martha e Kassab.
Ninguém pode ser "obrigado" a assumir preferências sexuais para administrar uma cidade. Quem usa a sexualidade como bandeira política costuma ter menos prazer no ato do que na "luta". O texto é parcial e passional.
Essa é sua opinião, anônimo. Mas pode haver eleitores que pensam diferente, por mais idiotas que pareçam, e eles têm o direito de indagar sobre a sexualidade, o time, a cor preferida ou qualquer bobagem sobre o candidato. Se Kassab quisesse viver sob as delícias do anonimato, não seria político.
Mas, como disse no texto, essa é uma falsa questão. Ninguém acusou Kassab de nada. Homofóbicos foram os kassabistas, da campanha e da imprensa, que reagiram como se a homossexualidade fosse um crime. As ligações de Kassab com Maluf, Pitta, Quércia e César Maia foram jogadas para segundo plano.
Uma pena que a pretensa homossexualidade de alguém possa servir de parâmetro para a avaliação de uma pessoa. A Marta, com seu histórico brilhante de sexóloga, sua coragem, enfiou o pé na lama com essa campanha que o PT adotou para tentar se recuperar em São Paulo.
No mínimo é hipocrisia uma pessoa que lutou por direitos homossexuais, sempre fazendo um discurso pró-igualitário, agora vir a explorar o preconceito e a diferença para sua campanha. Ou ela não está sendo ela mesma, e por isso mesmo não merece confiança, ou ela na verdade sempre pensou assim e foi extremamente hipócrita anteriormente.
Não gosto do Kassab e sua política, mas compreendo o fato de um político (precisar) esconder sua orientação sexual, já que a homossexualidade ainda faz diferença enorme para uma grande parcela da sociedade. E sei o quanto esta escolha pessoal significaria um tormento na vida do próprio político e de seu companheiro, que nunca poderão ser vistos juntos em público em uma atitude mais carinhosa, ou sei lá, em um comportamento considerado "de casal".
Tal sofrimento, o "sofrimento do armário" é tão intenso, e sem dúvida todo homossexual que já saiu dele lembra-se perfeitamente dessa sensação, que ultrapassa qualquer covardia na opção em omitir esta relação.
No Brasil de hoje a homossexualidade é um passaporte para o ostracismo político
A ofensa maior, e parece ser este o tom adotado, é a tentativa de se explorar um aspecto da vida privada, como a sexualidade de um político ou de qualquer indivíduo, para tirar vantagens, e aí reside o erro.
É inacreditavelmente deprimente esse seu comentário, que tenta insinuar que a culpa da polêmica é de Kassab, e não de Marta. É o mesmo estratagema covarde e sub-reptício que foi usado contra Alckmin na campanha presidencial. Lança-se uma mentira (Alckmin vai privatizar a Petrobrás), e o adversário que se esfalfe pra provar que a mentira é mentira. Marta exagerou?: Não importa, Kassab que diga se é gay ou não é.
Essa é a "tolerância de fachada" do PT. Quando interessa, utilizam os gays e outras minorias como massa de manobra de seu partido. Quando estão perdendo, apelam para o preconceito rasteiro, sujo e boçal.
O PT jogou sujo e usou o mesmo estratagema baixo de Collor contra Lula em 1989. Não aprenderam nada? A vida sexual de Kassab é tão irrelevante para a prefeitura de São Paulo quanto a pluralidade marital de Marta Suplicy... engraçado é que, se for falar dela, é preconceito. Se for falar de Kassab, ele bem que merece, pois é de "direita", não é mesmo? Ah, a moral torta e subserviente de certa esquerda é mesmo deprimente....
Prezados Luiz Silva e Cláudio Moreira,
concordo com a irrelevância do assunto para o debate eleitoral, mas há exageros nessa preservação da intimidade do candidato. Se sua vida privada contraria ítens da plataforma eleitoral que o elege, há interesse público em conhecê-la. O eleitorado conservador (e eventualmente homofóbico) de um político conservador (e de discurso eventualmente homofóbico) tem o direito de saber se ele contradiz esse discurso na intimidade. Para ampliar os exemplos: realizar um aborto, contratar os serviços de prostitutas ou usar drogas são assuntos que devem ser preservados na intimidade do candidato - a não ser que ele seja eleito defendendo as criminalizações do aborto, da prostituição e dos usuários de drogas. Isso se aplica, ao menos parcialmente, a Kassab e seu DEM-PFL.
Mas, como todos sabemos, são outros os aspectos constrangedores da biografia do prefeito. A cidade de São Paulo será administrada por uma fiel seguidora de Orestes Quércia e ninguém acha isso ofensivo.
"Se sua vida privada contraria ítens da plataforma eleitoral que o elege, há interesse público em conhecê-la. O eleitorado conservador (e eventualmente homofóbico) de um político conservador (e de discurso eventualmente homofóbico) tem o direito de saber se ele contradiz esse discurso na intimidade".
Esse trecho de seu novo comentário é a mais retumbante pérola da mistificação com objetivos políticos. Trata-se de uma forma espúria de justificar a baixaria, o jogo sujo do PT, que tenta trazer para o epicentro do debate político uma pauta que, objetivamente, não diz respeito à administração pública.
Se fosse seguir esse raciocínio, a vida abonada de Marta Belisário, que foi casada com um Matarazzo Suplicy, deveria ser considerada antagônica com a agenda do PT, que desde seu nascimento, investe na luta de classes, não é mesmo? Ou esqueceram-se da frase-padrão do manifesto de fundação do partido ("por um partido classista, de trabalhadores e de massas")?
Quanto a ter iniciado a vida política com Quércia... bem, Lula está no ápice de sua carreira na companhia ideológica de Delfim Netto, Inocêncio de Oliveira e outros "revolucionários"...só que de outra Revolução.
Não concordo com o texto, em absoluto.
Em primeiro lugar, ninguém é obrigado a dizer e nem a deixar de dizer se é homossexual ou não. A liberdade individual de todos deve ser respeitada, inclusive dos candidatos.
Em segundo lugar, a idéia que a população pode exigir qualquer besteira dos candidatos como critério de voto, satisfazer qualquer curiosidade mórbida, é absurda.
Democracia é um processo de auto e hetero educação.
Para termos uma democracia madura, que aliás vamos construindo aos poucos, tanto o eleitor deve compreender o que é e o que não é relevante num debate político-eleitoral quanto o candidato, que se dirige à sociedade neste momento importante, também tem o dever moral e cívico de dizer apenas o que interessa, e não a besteira que lhe vier à cabeça, sob o fragilíssimo e até um pouco cínico argumento de que "o povo quer saber". A baixaria não é legítima não.
Os candidatos tem que ter um comportamento digno e dirigir-se à população com respeito e seriedade. Ninguém está autorizado a ser o dono da verdade e dizer o que interessa e o que não interessa num debate eleitoral, mas já há uma construção coletiva mais ou menos consensual resultado do nosso acúmulo democrático, pequeno mas significativo.
O dono desse blog acha legítimo o que Collor fez em 89, levando aquela senhora ao programa eleitoral? Acha legítimo a forma como Jânio venceu FHC, insinuando que ele era ateu e usando como principal argumento contra ele o fato dele ter fumado maconha? Esses atos causaram menos indignação do que a escorregada da Marta porque a democracia evoluiu. O autor do blog quer um retrocesso. Como disse, coisas que eram até certo ponto aceitáveis no passado, hoje não são mais
Em terceiro lugar, o dono desse blog parece ser um sujeito inteligente. E qualquer pessoa inteligente sabe que a insinuação da Marta foi grave, despropositada e inadequada numa disputa eleitoral, como aliás denunciaram Kostcho, Eduardo Suplicy e até o Lula. Seria grave para qualquer um, mas mais grave para alguém que se diz defensora das minorias sexuais. O cinismo tem ou não limite?
Em tempo: votei no PT muitos anos da minha vida, mas não votarei na Marta nem no Kassab. Anularei o voto. Uma das minhas decepções com a esquerda é a evidente dificuldade em assimilar a democracia, o que o texto mais uma vez patenteia.
Complexado eh phoda. O PT eh acusado 6 vezes nessa pagina. o PT tem "tolerancia de fachada" mas ***aquela gente*** nao tem. O PT joga sujo mas ***aquela gente*** nao joga. (Padre?)Claudio, me mostre em toda sua vida por escrito, na internet, o dia que voce reclamou de "jogo sujo" e de "tolerancia de fachada" contra qualquer paulista nao-petista.
Bem, em primeiro lugar, um pouco de regra de abreviatura em língua portuguesa: "Pr" é a abreviatura de Pastor, que é o que sou. "Padre" se abrevia "Pe."
Segundo: seria muito instrutivo se você explicasse quem é ***aquela gente*** a quem você se refere. Se estiver se referindo ao Democratas, ou à "direita" de uma forma geral, revela mais uma vez a natureza farsesta da argumentação filopetista, que usa sempre dois pesos e duas medidas. Lembro bem que, quando Bornhausem usou a força de expressão "essa raça" pra se referir aos cleptopetistas, caiu o mundo em cima dele. Agora, se um esquerdista diz ***aquela gente***, isso deve ser considerado correto e justo, não é mesmo? Ora, me poupe.
Em terceiro lugar, não tenho que criticar um paulista não-petista para parecer justo aos olhos de ninguém. Critico, e criticarei sempre, agressores ao Estado de Direito e terroristas políticos, sejam eles petistas ou não. Se é mais fácil encontrar gente assim no PT, a culpa não é minha. Não sou eu quem saio por aí perguntando se fulano é casado ou tem filhos. Gabeira não é casado nem tem filhos, mas se eu fosse eleitor no Rio de Janeiro, meu voto seria dele.
Bem, acredito que tanto o Kassab quanto qualquer um de nós tem o direito de não gostar de ser chamado de homossexual e sentir-se tão ofendido quanto se fosse chamado de bandido. Para um heterossexual, sua sexualidade pode valer tanto quanto seu caráter e tanto uma quanto a outra, quando posta em dúvida, gera irritação e indignação. Todos têm a obrigação de respeitar o próximo, independente de suas opções, mas, ísso não significa que um heterossexual tenha a obrigação de sentir-se honrado por ser chamado de gay, até mesmo porque muitos gays não sentem-se honrados. Quando os gays fazem uma parada GLTB é uma festa, mas, se um heterossexual defende sua natureza publicamente, é preconceituoso. Um negro pode sair com a camiseta "100% negro", mas se um branco sai na rua com uma camiseta "100% branco" é racista ou neonazista. Se o Netinho de Paulo diz ser "100% cohab", tudo bem, mas, se o Silvio Santos resolver apresentar seu programa de domingo com uma faixa "100% Morumbi", será frito na segunda-feira... As "minorias" andam abusadas e aproveitadoras. Daqui a pouco as pessoas terão vergonha de dizer que são brancas, heterossexuais e têm dinheiro.
Bom dia a todos, não quero saber se esse cara é gay ou não, isso é problema dele, para quem mandou relachar e gozar, não tem moral para falar nada de quem quer que seja. O fato é que kassab esta a frente de uma cidade com um orçamento de quase 30 bi, com muitas vidas, com sonhos e necessidades, e para gerenciar todas as necessidades de São Paulo é preciso competência e honestidade, politica e humana, "não vejo nos dois candidatos disponiveis". Mas como ultimamente tudo o que temos é a escolha do menos pior.
Prezado Pr Cláudio Moreira, o Gabeira tem pelo menos uma filha, chama-se Maya Gabeira e é surfista. Antes de escrever, que tal ler um pouco?
Respeitosamente
Marcelo
O autor escreve bem.
Mas quando faz a sua panfletagem rasteira pelo PT, é uma lástima. Esse texto é uma verdadeira delinqüência intelectual, dispensando qualquer comentário sobre o seu triste conteúdo.
O servilismo petista tem todo tipo de representante...
Postar um comentário