sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Vice-debate

O histórico de presidentes democratas assassinados e a idade do candidato republicano conferiram importância inusitada ao debate de ontem, entre Joe Biden e Sarah Palin. Em outros países, o espetáculo seria bizarro demais para a exibição em larga escala – algo como um diálogo de aspirantes a miss.
A escolha de Palin como candidata a vice ajudou a campanha de John Mc Cain a desviar as discussões eleitorais para trivialidades subalternas da frugalidade política. No lugar dos problemas reais (guerras, crise econômica, violações a direitos humanos), surgiria uma personagem folhetinesca, construída a rigor para entreter as platéias até o momento do voto. No império do entretenimento, a transformação da personalidade em assunto é cíclica e autogeradora: a notícia vende apenas porque virou notícia, e assim por diante.
E quase deu certo. Por duas semanas, a cobertura jornalística foi pautada pela governadora inexpressiva, caipira e reacionária, com seus problemas familiares desimportantes e corriqueiros. A Cinderela da América profunda surgiu da neve para realizar-se na terra dos gigantes másculos, tornando-se, ela também, vítima de eventuais preconceitos (dividindo a vitimização antes monopolizada por Barack Obama).
Mas a estratégia ruiu, principalmente porque a crise econômica explodiu antes do previsto, forçando o governo Bush a engasgar em medidas impopulares e desajeitadas. Os congressistas negaram-se a consagrar qualquer candidato como o “Pai do Pacote” e o noticiário foi tomado pelo catastrofismo econômico.
Biden é fraco, mas não se compara à caricatural Palin, cria do extremismo religioso e do cinismo bélico da era Bush. Ela parece orgulhosa de sua mediocridade secretarial, cheia de piscadelas marotas e tiradas maliciosas, e assim torna-se ainda mais ridícula. Os ganhos midiáticos de sua indicação provavelmente foram anulados nessa tentativa de fingir-se digna e preparada.
Para usar metáfora compatível com os limites da governadora, ao arruinar as chances do casal McCain/Palin, a crise financeira transformou-se numa intervenção divina em prol da Humanidade. Aleluia!

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