O futuro do cinema brasileiro brotou no Nordeste. Os bambas do eixo Rio-São Paulo-Porto Alegre tanto já perceberam o fenômeno que tentam, há alguns anos, abortar a política descentralizadora do ministério da Cultura para os subsídios federais. Houve briga feia, mas uma das provas do valor da idéia é “Árido movie”, lançado em 2005.
Não importam as imperfeições, localizadas e menores: eis um dos melhores filmes brasileiros dos últimos tempos. Sua grandiosidade reside justamente na honestidade despretensiosa com que retrata natureza e cidadãos sem incorrer no regionalismo idiota das caricaturas globais.
As águas turvas de Recife, o interior pernambucano e seus azuis intangíveis, a beleza incompreensível do sertão pedregoso, desolação e loucura, delírio e violência, poesia e atraso. Revive o espírito do cinema marginal, udigrudi (Jairo Ferreira: “de invenção”), que, através de Rogério Sganzerla, Júlio Bressane e outros, impregnou de lisergia e liberdade os rigores do Cinema Novo.
Mas a simplicidade de “Árido movie” é apenas aparente. O diretor Lírio Ferreira (“Baile perfumado”) não é nenhum neófito. O veterano cineasta Murilo Salles empunha a câmera. No elenco, Paulo César Pereio, Selton Mello, Giulia Gam, o sensacional José Dumont, Luís Carlos Vasconcelos, Matheus Nachtergaele e José Celso Martinez Correia. A trilha sonora explode achados e raridades.
Cinema popular sem os populismos dos caça-níqueis de Luís Carlos Barreto, Globo Filmes, O2 e congêneres. Cinema também jovem, transgressor, livre dos jargões das provincianas classes médias carioca e paulistana, que buscam espelhos distorcidos nas telas dos shoppings. Vida longa a Lírio Ferreira, Cláudio Assis, Marcelo Gomes e todos os novos diretores nordestinos, grandes cineastas brasileiros.
4 comentários:
Scalzilli,
Indicação perfeita. Vou recomendar também.
Abraço!
Sou uma entusiasta deste filme e muito me deixou contente saber que outras pessoas, como eu, o acham genial. Comungo exatamente da mesma opinião: "Árido Movie" é um dos melhores filmes dessa safra de longas brasileiros. E penso assim pq ele faz uma leitura de nosso país, uma leitura profunda, difusa, mas sincera. Viva Lírio Ferreira.
24/05/09
Não vi o filme. Por enquanto, só ouço comentários de pessoas como Humberto Carvalho Jr e Pupi com seus comentários aqui ao lado deste espaço. Apenas dois? Sim, mas o bastante a que se diga: "Já é hora de o cinema brasileiro apresentar uma obra que esteja gabaritada a concorrer contra essa "chusma" de enlatados alienígenas", e que não seja ela, apenas e tão somente, esperanças de muitos e decepções de alguns.
Creio nesses dois comentaristas pela única razão de que obras do nosso cinema não suscitam, por mínimos que sejam, comentários elogiosos.
esse filme só mostra a ignorância do sul em relação ao resto do país. atores PÉSSIMOS que NÃO têm a cara do recife, nem das cidades do itnerios. ninguém fala do jeito certo, ninguém tem o rosto do povo, e ninguém fala parecendo ator de segudna categoria. atuações nem um pouco realistas. PÉSSIMO, como a grande maioria dos filmes com atores da globo. isso é culpa do diretor, que não sabe enxergar a falta de realidade do seu filme.bom para quem não é de pernambuco.
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