sexta-feira, 24 de julho de 2009

Antonio Cicero (n. 1945)

Eco

A pele salgada daquele surfista
parece doce de leite condensado.
Como seu olhar, o mar é narcisista
e, na vista de um, o outro é espelhado.

E embora, quando ele dança sobre as cristas,
goste de atrair olhares extraviados
de banhistas distraídos ou artistas,
é claro que o mar é seu único amado.

Ei-lo molhado em pé na areia: folgado,
ao pôr-do-sol tem de um lado a prancha em riste
e usa do outro uma gata e um brinco e assiste

serenamente ao horizonte inflamado
e a brisa o alisa e enfim ele não resiste
à beleza e diz “sinistro!” e ouve eco ao lado.

Do livro “Guardar” (1996)

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