Publicado na página da Caros Amigos e no Observatório da Imprensa.
Nos esporádicos eventos que exigem apresentações (entrevistas, por exemplo), é comum haver referências à minha atuação como “jornalista”. Dentre todas as alcunhas imerecidas, esta provoca mais desconforto, porque não tenho formação na área, jamais pretendi exercer a atividade e tampouco acredito exercê-la. Tento desfazer o equívoco, mas os interlocutores argumentam que minhas colaborações regulares para veículos informativos me inserem na seleta categoria.
Discordo, embora lisonjeado. Furtar um grau superior reconhecido oficialmente soaria desonesto com o distinto público. Também alimento a ilusão (ultrapassada e romântica, admito) de que jornalistas profissionais possuem compromisso com a objetividade, a veracidade e o interesse coletivo. Meus textos, ao contrário, são demasiado opinativos e diletantes para tamanhas pretensões.
Abdicar da qualificação não significa, entretanto, aceitar seu viés legitimador. Ninguém precisa de diplomas para coletar informações, cultivar análises e reproduzir raciocínios legíveis. Canudos de papel não materializam vocações ou talentos, em qualquer afazer criativo.
Na verdade, considerando a qualidade média dos serviços em questão, a própria formação universitária precisa ser repensada com urgência. Uma preocupante parcela dos jovens jornalistas brasileiros carece de rudimentos teóricos que deveriam ser exigidos de qualquer cidadão, ainda mais de alguém que pretende “formar opiniões”. Supondo-os diplomados, e quase todos são, chegamos a nos perguntar como conseguiram completar o colegial e passar num vestibular, antes mesmo da formatura.
Não me refiro à imprensa de província (amiúde injustiçada), nem às crônicas esportivas e policiais, recheadas de cacoetes divertidos. Até respeitados veículos de abrangência nacional sucumbem a escrutínios rigorosos. Os erros de gramática e concordância aparecem com lamentável freqüência. Amiúde surge o clássico “dar a luz a” e uma constelação de cacofonias no estilo “nunca ganha”. E os lugares-comuns se transformaram em dialeto particular, subproduto inócuo do discurso publicitário (leia o texto na íntegra aqui ou aqui)...
3 comentários:
A despeito da discussão sobre a exigência do diploma de jornalista, alguém ousa defender a grade do curso de jornalismo ou de comunicação social em geral com fundamento científico? Que tal transformar a Comunicação Social em habilitação do curso Ciência Sociais? Talvez pensar o Jornalismo como um serviço à sociedade partindo da premissa de conhecê-la, e não com fim nele mesmo como mera atividade de mercado, seja inconcebível à mídia empresarial. Ou isso ou o curso vai ter a mesma credibilidade de uma faculdade de Turismo, por exemplo.
Guilherme, uma das melhores coisas que você já escreveu!!! No meio de toda essa "polêmica", o que interessa mesmo é que os cursos de jornalismo são uma M... faz tempo, e o que falta é ÉTICA!!! E isso é uma coisa que se traz de dentro de casa, do caráter. Ponto final. Não tem discussão. É nessa hora que quase todos fogem da raia...
Parabéns por tocar na questão da qualidade de ensino. De como está estruturado o curso de jornalismo, é isso aí! Excelente.
Guilhermé e Cibele, sem dúvida a revalorização do profissional passa por uma revisão dos cursos, principalmente os privados, que explodiram na gestão Paulo Renato Souza, do governo FHC. A qualidade desse ensino é sofrível em diversas áreas.
Obrigado pela participação elogiosa e incentivadora. Seus comentários são bem-vindos sempre.
Abraços aos dois do
Guilherme
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