Publicado na revista Caros Amigos, em setembro de 2009.
Houve uma fase do governo Lula em que a imprensa dedicou especial atenção às supostas pretensões hegemônicas do presidente. A polêmica, depois monopolizada pelo fantasma do terceiro mandato, escondia um temor inconfesso: alijada do poder federal, a oposição entraria em processo de decadência irrecuperável caso perdesse também seus predomínios regionais. Muito esforço midiático e financeiro foi mobilizado para impedir essa catástrofe em 2006, e logo será retomado.
São Paulo é o núcleo irradiador da resistência oposicionista. As gestões de José Serra e Gilberto Kassab destacam-se das heterogeneidades estaduais pela coerência de suas alianças e pela importância estratégica das imensas estruturas que administram. Elas abrigam fundadores e ideólogos do PSDB, membros dos escalões superiores dos governos FHC, próceres do conservadorismo religioso e das maiores fortunas industriais, bancárias e imobiliárias do país.
Sem essa base operacional, PSDB, DEM (PFL), parte do PMDB, PPS e demais agregados perderiam a identidade, a coesão e os alicerces materiais imprescindíveis num projeto de poder em âmbito nacional. O inevitável vácuo de liderança afetaria as representações parlamentares da coligação paulista, dispersando-a em aglomerados coadjuvantes e rivais entre si.
Serra só será candidato a presidente se a sucessão estadual estiver garantida para algum apadrinhado. Uma reeleição quase certa é preferível ao risco de perder em duas frentes; e ele conhece a fragilidade das próprias alternativas no pleito local. Por outro lado, a falta de adversários competitivos em São Paulo proporciona ao governador uma vantagem estratégica importantíssima no embate com Dilma Rousseff.
Eis por que a disputa pelo Palácio dos Bandeirantes será decisiva para a campanha presidencial de 2010. A opção Ciro Gomes é menos absurda do que parece.
2 comentários:
Caro Guilherme Scalzilli
Por mais que eu conheça os motivos para o PT paulista não querer lançar o nome do Senador Eduardo Suplicy, ainda assim, não consigo entender a tendência derrotista que tomou conta do partido no estado. Lançar Palocci ou qualquer outro nome aventado até agora só aumentará o prejuízo. Caso seja Suplicy o candidato haverá uma boa chance de pelo menos levar o pleito para o segundo turno e com certeza alavancaria as candidaturas proporcionais (imaginemos Marta, Palocci, Pietá, Emídio e talvez Haddad, junto a outros nomes de peso disputando uma cadeira na Câmara, com certeza o PT formaria a maior bancada). Suplicy é o nome certo para disputar um eleitorado, que embora avesso ao PT, enxerga nele um dos últimos moicanos (opinião do senso comum) no Senado Federal.
Hudson, concordo contigo, mas questiono a capacidade de Suplicy enfrentar a máquina tucana no Estado. Isso não tem nada a ver com valores pessoais, mas envolve uma disposição para o embate que, sinceramente, não vejo no senador.
Abraço do
Guilherme
Postar um comentário