Publicado na revista Caros Amigos em dezembro de 2009.
Quando os partidos socialistas converteram-se em forças competitivas nas disputas políticas (não mais isolados e inofensivos graças a miopias dogmáticas), seus adversários impuseram-lhes a pecha do recuo ideológico, da negação de princípios. Assim, a chamada “crise das esquerdas” ganhou utilidade publicitária.
Mas ela possui uma face palpável. Com a experiência do poder, a esquerda perdeu monopólio sobre certas plataformas históricas. Enquanto a consolidação do capitalismo sufragista homogeneizava os velhos antagonismos retóricos, importantes demandas sobreviviam à alternância democrática, alcançando um estatuto suprapartidário e criando vácuos de representatividade. O discurso conservador tratou de preenchê-los, incorporando múltiplos itens de agendas alheias.
Desnecessário afirmar que ninguém dispõe de exclusividade natural sobre qualquer reivindicação justa. Mas tampouco ignoremos que o “neoprogressismo” disfarça a hipocrisia de agentes políticos convertidos a causas que sempre combateram. Com a característica malícia demagógica, eles souberam reconhecer avanços históricos inexoráveis, abandonando posturas retrógradas antes que virassem entulhos.
Um exemplo dessa metamorfose surgiu com Fernando Henrique Cardoso, que recentemente abraçou a defesa da descriminalização da maconha. Ele apenas repete uma obviedade professada há décadas por antigos rivais desacreditados, hoje consagrada como evolução jurídica inevitável por especialistas e governos de várias tendências – até os EUA revêem a estupidez repressiva que eles próprios fomentaram.
Cabe à esquerda evitar a armadilha de responder às apropriações combatendo seus objetivos finais, atrasando mudanças necessárias por causa de ressentimentos estranhos ao interesse público. Seria como pular para um navio a pique, apenas porque os piratas o abandonaram.
2 comentários:
É muito interessante como o proibido vai se adaptando .
Quantas famílias Brasileiras vivem o drama dos filhos usuários de drogas , e como a maconha vem sendo largamente consumida , causando prejuízos que estão além de seus próprios efeitos .
O barato é uma opinião fácil de dar! (Pô! Legal!!!rárárá!)
Sou a favor da liberação da maconha desde que se tenha um controle da dosagem , o que não é fácil de fazer sem que ela se torne um medicamento .
A maconha retarda se a dose não for controlada.
Precisam ser produzidos pela Souza Cruz ou outras companhias e assim poder oferecer uma relação quantitativa de controle maior do que simplesmente : "Fumei um baseadão ou um baseadinho" .
A bandeira da maconha é feia de se carregar como político e como usuário . Não são todas as pessoas que podem experimentar tudo na vida , e infelizmente , são as pessoas que menos podem que estão experimentando tudo.
A maconha em termos de controle social é muito mais produtiva do que a pinga.
Pode-se fazer a vida de uma pobre criatura girar em torno de fumar um baseadinho depois do trabalho todo o santo dia e acordar disposto no dia seguinte.
Happy Hour !
Que tristeza !!!
Anônimo, os maiores malefícios de qualquer substância advêm da sua proibição, que impede a conscientização do público e criminaliza os usuários. Há muitos argumentos técnicos, além dos "doutrinários", favoráveis à legalização da maconha. Na aba "Drogas" é possível encontrar diversos textos abordando a questão por diferentes prismas.
Postar um comentário