quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

“Lolita”


Há diferenças fundamentais entre o livro de Vladimir Nabokov e as duas adaptações cinematográficas. No original, Humbert é um canalha assumido e Dolores, apenas uma criança de doze anos. No filme de Stanley Kubrick (repetido quase quadro a quadro por Adrian Lyne), o professor possui certa nobreza de intenções e é seduzido a contragosto por uma adolescente (14 anos) lúbrica e maliciosa.

O classicismo kubrickiano e dois atores estupendos como James Mason e Jeremy Irons transpuseram a história para um universo completamente novo, distante de sua inspiração inicial. O anti-herói de Nabokov servia como instrumento de sátira da América profunda e de seu provincianismo filisteu. Humbert é sugado e destruído pelo rincão, mas também ajuda a movimentar sua engrenagem desumana.

O livro guarda uma tragédia total, sem remissão. Lolita jamais conheceu o prazer, não sabe o que está fazendo, conhece uma degradação irrefreável. A narração em primeira pessoa contribui para criar uma incômoda empatia com o protagonista repugnante, sedutor e chocantemente familiar.

Os dois primeiros parágrafos

“Lolita, luz de minha vida, labareda em minha carne. Minha alma, minha lama. Lo-li-ta: a ponta da língua descendo em três saltos pelo céu da boca para tropeçar de leve, no terceiro, contra os dentes. Lo. Li. Ta.
Pela manhã ela era Lô, não mais que Lô, com seu metro e quarenta e sete de altura e calçando uma única meia soquete. Era Lola ao vestir os jeans desbotados. Era Dolly na escola. Era Dolores sobre a linha pontilhada. Mas em meus braços sempre foi Lolita.”

Da série Todo prosa.

2 comentários:

Anônimo disse...

Esses velhinhos tarados e suas carências .
Concentram toda a sua força para se iludirem com os portais femininos do prazer.
Vejam só como é extraordinária a venda do medicamento para auxiliar a ereção masculina pelo planeta!
Este medicamento deu mais dignidade aos impotentes e tornou o sexo para eles até mesmo mais higiênico, poupando-lhes de maiores constrangimentos.
O sexo faz sentido !
Muitas pessoas não conseguem se livrar das grilhetas do sexo e convivem com esta superficialidade como um enigma para o resto da vida.
Pobres se casam por sexo.
Ricos se casam por interesses diversos e estão certos nesse equilíbrio.
O problema é suportar a mulher quando se torna um bagulho repulsivo esteticamente...é traumatizante para os homens a queda dos padrões da beleza.
Todos querem as Lolitas , mesmo que seja tarde demais.

Cristiano Contreiras disse...

Kubrick conseguiu renovar o conceito com sua visão de Lolita..e mesmo assim foi contundente a abordagem!

belo blog, caro Scalzilli!

te sigo