quinta-feira, 24 de junho de 2010

“O escritor fantasma”


Enredos sobre conspirações políticas costumam parecer inverossímeis, porque, afinal, a realidade é insuperável em horror e absurdo. Mas, embora distribua suas alfinetadas, Roman Polanski está pouco interessado nos bastidores do poder. Ele usa um roteiro engenhoso e surpreendente para abordar a própria situação de refugiado, banido pelo país que o celebrizou, vítima de governantes e juízes espúrios.

Quem leu sua autobiografia, “Roman de Polanski”, acompanhou as fraudes e manipulações do processo que o levou à prisão e depois à fuga para a Europa. É indecente, e muito característico dos últimos anos da política estadunidense, que um dos maiores cineastas vivos ainda precise trabalhar no exílio, permanentemente ameaçado de extradição, enquanto seus perseguidores espalham violências pelo mundo.

A riqueza do filme assenta nos detalhes do enredo: a falta de nome do protagonista, o bunker na ilha, os relacionamentos ambíguos. Polanski também esbanja domínio narrativo. Os minutos finais concentram um rigor hitchcockiano que talvez apenas Brian de Palma tenha sabido reproduzir.

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