segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Falácias contra a maconha


Ronaldo Ramos Laranjeira, professor da Unifesp e coordenador do Instituto Nacional de Políticas sobre Álcool e Drogas, e Ana Cecilia Petta Marques, pesquisadora do mesmo Inpad/CNPQ, atacam a legalização da maconha. O último artigo chama-se “Lobby da maconha” e saiu na Folha. Os argumentos são batidos, mas reúnem as principais deturpações proibicionistas em voga. Elas são citadas abaixo, em itálico, seguidas de meus comentários.

1. “Maconha faz mal”: irrelevante. Toda substância pode causar dano à saúde. Os horrores do câncer, do infarto ou do vício jamais serviriam para proibir legumes tratados com agrotóxicos, frituras ou remédios que provocam dependência. O argumento da saúde pública tem a mesma duração de um copo de cachaça.

2. “Efeito terapêutico não é comprovado”: mentira. Procurem os trabalhos do Dr. Raphael Mechoulam, da Universidade Hebraica de Jerusalém. Depois sigam suas indicações por experiências semelhantes no Canadá, nos EUA e em toda a Europa. Mas, afinal, acadêmicos não deveriam possuir esse tipo de informação?

3. Efeito terapêutico é obrigatório: mentira. A descriminalização da maconha é endossada por inúmeros argumentos, de várias disciplinas. O enfoque no uso medicinal da erva é armadilha retórica para limitar esses argumentos a apenas um, frágil e sujeito a endossos de “autoridades competentes” que têm interesses diretos na questão. Nenhuma substância legalizada precisa ser obrigatoriamente benéfica à saúde.

4. “Droga insegura”: alguém conhece droga segura? Quem leva o assunto a sério sabe que existem dezenas de maneiras de minimizar os danos da cannabis. É possível inalar fumaça fria, gerada por plantas controladas, com baixo teor de resíduos tóxicos. E até saborear bolos de chocolate com cobertura de marshmallow...

5. “Nossa legislação já é liberal”: mentira. É tão repressiva e obsoleta que os brasileiros são impedidos pelo próprio Judiciário de questioná-la publicamente. Ou são imediatamente chamados de lobistas. Se alguém quiser conhecer leis avançadas, procure na Holanda, na Espanha, em Portugal, no Canadá e na Argentina, onde se permite o cultivo doméstico de maconha.

6. “A legalização disseminaria o uso”: mentira. Os governos dos países acima possuem dados bastante claros a respeito, disponíveis aos nobres doutores. Desde a Lei Seca, prevalece uma lógica imutável: o consumo só aumenta onde há proibição. Também a criminalidade, a corrupção policial e a marginalização do usuário.

7. O tal “lobby”: uma tolice conspiratória. Talvez convenha a colunistas irados (como Ruy Castro) ou a governos repressores, mas não parece adequado em manifestações científicas. O único lobby atuando nesse debate é favorável ao equívoco repressivo. Seu misterioso poder de convencimento pode ser aferido pela facilidade com que certos acadêmicos se dispõem a repetir bobagens que não passam no escrutínio mais benevolente. E, já que tocaram no assunto, uma pergunta singela: quanto os laboratórios farmacêuticos deixariam de lucrar com a legalização da maconha?

4 comentários:

Galerius disse...

Muito boa esta matéria, e obrigado Guilherme por ter mencionado o nome outro dia.
Essas proibições, ao meu ver, são violações flagrantes à liberdade do cidadão. É o absurdo do Estado querer me proteger de mim mesmo. É mania de crente e de igreja que quer proibir tudo; Não pode beber, não pode fumar, não pode ter sexo, não pode isso, não pode aquilo.

Não uso drogas, e de fato, nem fumo cigarro que me dá até nojo, mas não sou à favor de uma proibição. Porém, que seja regulado o uso como o consumo do cigarro está sendo regulado.

Desde 2006, no México que declarou guerra contra as drogas, 28,000 pessoas já morreram consequencia dessa proibição. Dois ex-presidentes do México se pronunciaram a favor de liberar o uso de drogas.

Ver o Sítio do ex-presidente Vicente Fox, na sua matéria de 7 de Agosto:

http://www.blogvicentefox.blogspot.com/

Sidarta Ribeiro disse...

Excelente, Guilherme! Lavou minha alma, viva a verdade. Abraços,

Sidarta

eduardo disse...

indecente as cartas do sr laranjeira (esta e as anteriores), e bem comentada pelo guilherme, meus parabens.

Os proibicionistas se veem nun beco sem saida, onde a imensa maioria das evidencias aponta contra suas enraizadas crenças.

a guerra as drogas fracassou e ele estao apelando...

saudacoes

O verme disse...

Já sou um seguidor... valeu mesmo.
http://legalizeagora.blogspot