Publicado na revista Caros Amigos em agosto de 2010.
O estigma que associa o pragmatismo político à falta de escrúpulos é recente e malicioso. Enquanto as esquerdas dogmáticas viviam encurraladas entre a negação do sistema sufragista e os constrangimentos do socialismo real, a prática ilustrava a habilidade estratégica do conservadorismo político. Bastou os partidos progressistas conquistarem vitórias eleitorais importantes e o termo passou a englobar certa maleabilidade ética, associada popularmente a uma falsa concepção de “maquiavelismo”.
Já no mundo esportivo, a objetividade sem floreios revela a frieza e a disciplina dos combatentes invencíveis. Atletas pragmáticos têm vocação para o triunfo. A superação pessoal e a busca incessante da vitória demonstram respeito pelo público e até pelos adversários. Simbolizam, acima de jargões idealistas e consolos ocasionais, a própria essência da competição.
Curiosamente, o futebol concilia as duas concepções antagônicas. Isso acontece porque ele está entre as raras modalidades que permitem o êxito do rival menos capaz, alimentando uma ilusória distinção entre a “beleza” do jogo e o resultado final. A índole de torcedor imiscui-se no comportamento do militante. A face lúdica da utopia e o espetáculo do insucesso honroso desobrigam viabilidades eleitorais. Por outro lado, o cinismo velhaco (“rouba mas faz”) apropria-se do louvor à malandragem e da sanha competitiva para justificar imoralidades. O erro do juiz faz parte do jogo, certo?
Em ambos os contextos, porém, a dicotomia soa irrelevante. A otimização de esforços e recursos com base na experiência permeia qualquer atividade humana produtiva. Na democracia liberal, é inerente ao próprio espírito reformista. Mesmo as fantasias revolucionárias mais implausíveis pressupõem alguma viabilidade material. Caso contrário, mergulham no dogmatismo estéril.
O estigma que associa o pragmatismo político à falta de escrúpulos é recente e malicioso. Enquanto as esquerdas dogmáticas viviam encurraladas entre a negação do sistema sufragista e os constrangimentos do socialismo real, a prática ilustrava a habilidade estratégica do conservadorismo político. Bastou os partidos progressistas conquistarem vitórias eleitorais importantes e o termo passou a englobar certa maleabilidade ética, associada popularmente a uma falsa concepção de “maquiavelismo”.
Já no mundo esportivo, a objetividade sem floreios revela a frieza e a disciplina dos combatentes invencíveis. Atletas pragmáticos têm vocação para o triunfo. A superação pessoal e a busca incessante da vitória demonstram respeito pelo público e até pelos adversários. Simbolizam, acima de jargões idealistas e consolos ocasionais, a própria essência da competição.
Curiosamente, o futebol concilia as duas concepções antagônicas. Isso acontece porque ele está entre as raras modalidades que permitem o êxito do rival menos capaz, alimentando uma ilusória distinção entre a “beleza” do jogo e o resultado final. A índole de torcedor imiscui-se no comportamento do militante. A face lúdica da utopia e o espetáculo do insucesso honroso desobrigam viabilidades eleitorais. Por outro lado, o cinismo velhaco (“rouba mas faz”) apropria-se do louvor à malandragem e da sanha competitiva para justificar imoralidades. O erro do juiz faz parte do jogo, certo?
Em ambos os contextos, porém, a dicotomia soa irrelevante. A otimização de esforços e recursos com base na experiência permeia qualquer atividade humana produtiva. Na democracia liberal, é inerente ao próprio espírito reformista. Mesmo as fantasias revolucionárias mais implausíveis pressupõem alguma viabilidade material. Caso contrário, mergulham no dogmatismo estéril.
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