segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Salvem o Enem


Publicado na revista Caros Amigos, em dezembro de 2010.

Apenas o despeito vingativo da imprensa oposicionista não explica toda a gritaria em torno do conturbado Exame Nacional de Ensino Médio (Enem). Para debater a questão, deve-se ter em conta que vestibular, no Brasil, mobiliza uma indústria poderosíssima. O velho sistema de seleção financia estruturas gigantescas envolvendo redes de colégios e cursinhos, gráficas e editoras. Direta ou indiretamente, esse capital privado mantém lobbies ativos no Congresso, mobiliza intrigas palacianas, controla a distribuição de cargos estatais e financia muita propaganda na mídia corporativa.

A importância do Enem é incontestável. Em longo prazo, através da esperada aplicação de vários testes anuais e da adoção do método da Teoria de Resposta ao Item, o exame pode conduzir à necessária reformulação dos vestibulares tradicionais, que destroem as esperanças e os talentos da juventude numa escala comparável apenas à do malévolo serviço militar obrigatório. Um procedimento seletivo mais justo também contribuirá para democratizar o acesso ao ensino superior, além de aprimorar a capacitação do corpo discente e os serviços oferecidos pelas próprias instituições.

Empreendimentos com tais características possuem quase nenhum espaço para erros. Não importa que as falhas do Enem sejam estatisticamente irrisórias, menores que em qualquer similar nacional ou estrangeiro. Tampouco ajuda questionar a casualidade das estranhas urucubacas operacionais que todo ano trabalham para gorar o exame. Uma vez desmoralizado junto à opinião pública, restará pouco a fazer para salvá-lo.

Cabe ao Ministério da Educação introduzir no Enem um choque de qualidade equivalente às suas imensas pretensões. Mas, acima de tudo, é necessário fortalecê-lo politicamente, impedindo que o futuro governo federal seja influenciado pelos porta-vozes dos monopólios educacionais brasileiros.

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