Publicado no Amálgama.
Há tempos os sensatos avisam que é necessário impedir a transformação do interesse coletivo num pretexto para restringir as liberdades individuais. Que os desafios do mundo contemporâneo exigem mais tolerância e menos opressão. Que as legislações proibicionistas voltadas ao consumo de substâncias estão fadadas ao fracasso. E finalmente que a própria filosofia da limitação de direitos pode alimentar sucessões crescentes de arbitrariedades, chegando a exageros tenebrosos e talvez irreversíveis.
Ninguém ouviu. Afinal, se nos acostumamos à inútil Lei Seca em estádios paulistas ou à escandalosa proibição da Marcha da Maconha, certamente aceitaríamos qualquer tirania gratuita que viesse acompanhada por certa aura civilizada e saneadora. Assim nasceu a perseguição ao tabaco. Primeiro endossamos os mentirosos ataques aos fumódromos. Depois permitimos que a ingerência estatal sufocasse o livre-arbítrio de proprietários e clientes. Então aceitamos que as milícias expulsassem os fumantes até das calçadas adjacentes aos bares e restaurantes. Agora, graças a uma iniciativa do deputado estadual Vinicius Camarinha (PSB), estamos prestes a ver praças, parques e praias tomados pelo expurgo antitabagista. Praias, senhoras e senhores.
Amedrontados com a inevitabilidade da descriminalização das drogas (em especial da maconha) e constrangidos pelas incoerências de um sistema tributário-consumista que não dá a mínima para a saúde do cidadão, os legisladores de índole retrógrada tomam caminho oposto ao do bom-senso. Criam instrumentos para excluir da vida social todos os abelhudos que tiverem a pachorra de menosprezar o culto à longevidade, esse deus enganador que ilumina o conservadorismo planetário. No limite, contribuem para destruir a alteridade, forjando uma sociedade homogênea e falsamente “saudável” dominada por eleitos que obedecem a determinados padrões físicos e comportamentais. Numa versão politicamente correta de eugenia, o Estado penaliza contribuintes adultos, honestos e conscientes, impedindo-os de gozar prerrogativas legítimas em pleno espaço público, só porque uns Mengeles da sociabilidade afirmaram que inexistem “níveis seguros” para a permanência deles entre os “normais”.
A caça aos fumantes baseia-se no repertório de mistificações que costuma povoar os mais variados ambientes totalitários. O tal “direito de não ser incomodado”, que só contempla uma parte da população, é típico do fascismo. Em nome do bem-estar coletivo, hansenianos e portadores de outras doenças também foram perseguidos e confinados. Obesos e homossexuais sofrem discriminações por motivos parecidos. A classe médica, incapaz de lidar com fumantes longevos e atletas enfartados, dá embasamento pseudocientífico a truculências profiláticas que jamais ousaria cometer, por exemplo, contra as fumaças do transporte urbano ou os agrotóxicos cancerígenos. E a OAB silencia diante dessa inconstitucionalidade flagrante, uma entre dezenas que fazem a vergonha do Supremo Tribunal Federal.
Depois de iniciada, a epidemia repressiva apodrece os órgãos da sociedade, todos, sem exceções legalistas que nos protejam. Combatamos a escalada autoritária enquanto ainda podemos denunciá-la.
Ninguém ouviu. Afinal, se nos acostumamos à inútil Lei Seca em estádios paulistas ou à escandalosa proibição da Marcha da Maconha, certamente aceitaríamos qualquer tirania gratuita que viesse acompanhada por certa aura civilizada e saneadora. Assim nasceu a perseguição ao tabaco. Primeiro endossamos os mentirosos ataques aos fumódromos. Depois permitimos que a ingerência estatal sufocasse o livre-arbítrio de proprietários e clientes. Então aceitamos que as milícias expulsassem os fumantes até das calçadas adjacentes aos bares e restaurantes. Agora, graças a uma iniciativa do deputado estadual Vinicius Camarinha (PSB), estamos prestes a ver praças, parques e praias tomados pelo expurgo antitabagista. Praias, senhoras e senhores.
Amedrontados com a inevitabilidade da descriminalização das drogas (em especial da maconha) e constrangidos pelas incoerências de um sistema tributário-consumista que não dá a mínima para a saúde do cidadão, os legisladores de índole retrógrada tomam caminho oposto ao do bom-senso. Criam instrumentos para excluir da vida social todos os abelhudos que tiverem a pachorra de menosprezar o culto à longevidade, esse deus enganador que ilumina o conservadorismo planetário. No limite, contribuem para destruir a alteridade, forjando uma sociedade homogênea e falsamente “saudável” dominada por eleitos que obedecem a determinados padrões físicos e comportamentais. Numa versão politicamente correta de eugenia, o Estado penaliza contribuintes adultos, honestos e conscientes, impedindo-os de gozar prerrogativas legítimas em pleno espaço público, só porque uns Mengeles da sociabilidade afirmaram que inexistem “níveis seguros” para a permanência deles entre os “normais”.
A caça aos fumantes baseia-se no repertório de mistificações que costuma povoar os mais variados ambientes totalitários. O tal “direito de não ser incomodado”, que só contempla uma parte da população, é típico do fascismo. Em nome do bem-estar coletivo, hansenianos e portadores de outras doenças também foram perseguidos e confinados. Obesos e homossexuais sofrem discriminações por motivos parecidos. A classe médica, incapaz de lidar com fumantes longevos e atletas enfartados, dá embasamento pseudocientífico a truculências profiláticas que jamais ousaria cometer, por exemplo, contra as fumaças do transporte urbano ou os agrotóxicos cancerígenos. E a OAB silencia diante dessa inconstitucionalidade flagrante, uma entre dezenas que fazem a vergonha do Supremo Tribunal Federal.
Depois de iniciada, a epidemia repressiva apodrece os órgãos da sociedade, todos, sem exceções legalistas que nos protejam. Combatamos a escalada autoritária enquanto ainda podemos denunciá-la.
6 comentários:
Sr. Guilherme, seu texto é duvidoso.
Penso que se quiser fumar, se drogar e outros, "como disse" tenha essa liberdade, mas que faça sem que sirva de exemplo aos pequenos, e que não traga malefícios aos seus e a sociedade.
Boa sorte aos humanos sobreviventes, pois a mudança climática, vai virar a raça humana de cabeça pro ar...
Excelente o texto. Diz tudo aquilo que gostaríamos de falar mas não encontramos as palavras certas. De tão oportuno, que tomamos a liberdade de reproduzi-lo no Caraguablog, dando o devido crédito.
Parabéns pela forma como abordou a delicada questão, que divide opiniões, sem às vezes se atentar para o âmago do problema: a liberdade individual.
"Vieram ao nosso jardim. Primeiro levaram um flor..."
Assino em baixo, apesar de ser ex-fumante, não me tornei uma talibã do anti-fumo. Acho que numa cidade como São Paulo, onde nem nos comunicam os níveis de poluição diária, é até risível todo este acanimento contra fumantes... Inclusive, acabei de ler a declaração de um famoso médico oncologista dizendo que mata mais a comida que o fumo... e aí? vamos proibir a picanha e a batata frita?
"É angustiante constatar que você tem a flacidez de miolos necessária para cair na mesma enrascada"... ESSA PARTE CONFESSIONAL DO POST SEGUINTE DO AUTOR, ONDE O "VOCÊ" DEVE SER ENTENDIDO COMO "EU MESMO", EXPLICA ESSE POST E TALVEZ TODOS OS OUTROS..MUITO ELUCIDATIVO.
O que seria um "sistema tributário-consumista"? Um sistema tributário que favorecesse o consumo? Então não é o brasileiro.
Aliás, estou procurando algum legislador constrangido pelas incoerências de nosso sistema legal, não apenas tributário. Novamente, isso não existe no Brasil.
Afora as incoerências, não do sistema, mas do seu texto, existem outras fraquezas.Por que a proibição da marcha de uma substância ilegal seria escandalosa? Uma marcha da cocaína, do ópio, de anabolizantes proibidos, ou de armas contrabandeadas também seria escandalosa?
Wa Mor, o pior exemplo para uma criança é usá-la como pretexto para tolher o direito dos outros. Aliás, quem disse que uma sociedade repressiva impede qualquer pessoa, jovem ou não, de consumir o que lhe der na telha?
Carlos, o sistema "tributário-consumista" citado não incentiva o consumo, e sim o consumismo. Não incentiva a economia do contribuinte, nem trabalha por sua educação, pois vive de achacá-lo com multas e taxas.
A proibição da Marcha da Maconha é escandalosa porque fere a Constituição Federal. Se as outras defendessem mudanças nas legislações que as atingem, seriam igualmente respaldadas pela famosa Carta Magna. Porém, ao contrário desses exemplos meio forçados que vc usa, a descriminalização da maconha possui inúmeras justificativas (medicinais, legais, culturais, políticas, econômicas, etc) que vc, se quiser, pode encontrar na aba "Drogas" deste blogue.
Abraços do
Guilherme
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