quinta-feira, 4 de agosto de 2011
O Cansei de Obama
A novela do pacote da dívida estadunidense rendeu pequenas fortunas a quem soube aproveitar as oscilações de expectativa geradas pelo catastrofismo do noticiário econômico. Fora desse universo restrito de interesses, o debate político de Washington não versava sobre a possibilidade real de calote, mas acerca da natureza dos cortes necessários para a aprovação do teto legal de endividamento.
Se quisesse partir para o confronto, Barack Obama teria imposto sua vontade no Congresso. Optando pelo recuo estratégico, o presidente jogou à oposição o ônus de um eventual fracasso (ou no mínimo dividiu-o com ela) e resguardou-se numa posição apaziguadora. Na pior das hipóteses, resta-lhe o papel de vítima incompreendida, que ele pode vestir durante a próxima campanha sucessória.
Chama a atenção como a imprensa brasileira evita abordar o fenômeno Tea Party, que teve papel fundamental na aparente derrota da Casa Branca. Ele é tudo que sonhavam os ideólogos do nosso malfadado Cansei: movimento de fachada apartidária, fortemente estruturado e coeso, que aglutina parcelas importantes da mídia e logrou constituir um bloco parlamentar decisivo nas votações apertadas do Congresso.
O maior diferencial do Tea Party reside na astúcia com que trabalha para sabotar os programas do governo federal sem permitir que o óbvio ranço autoritário e a violência dos métodos prejudiquem sua representatividade, mesmo quando contraria o interesse público. O Cansei também era provinciano, elitista, cínico, ultraconservador, e visava os mesmos objetivos. Ao contrário dele, porém, o Tea Party conseguiu poder de persuasão capaz de abalar a estabilidade do país.
É fácil entender por que os nossos bravos comentaristas querem distância desse tipo de irresponsabilidade oportunista, que eles um dia souberam aplaudir.
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