Um adendo ao comentário sobre “A privataria tucana”.
Nos capítulos finais do livro, Amaury Ribeiro Jr conta como foi envolvido numa disputa interna pelo comando da candidatura presidencial de Dilma Rousseff. Rui Falcão, atual presidente do PT, é acusado de vazar informações para a imprensa com o intuito de prejudicar seus adversários, Fernando Pimentel em particular. O autor teria sido atacado por um suposto envolvimento com eles.
O trecho sobre o episódio soa um tanto exagerado. Quem já vivenciou o cotidiano de um desses bunkers de coordenação eleitoral sabe que as intrigas e sabotagens relatadas são comuns e até previsíveis. O clima é sempre de competição, desconfiança, inveja. Ninguém ali (ao menos acima de certo nível de responsabilidade) tem a mínima ilusão de estar entre inocentes desapegados. Acho difícil acreditar que Ribeiro Jr, profissional de vasta quilometragem no meio, cairia em logros de arapongas ou permitiria que arquivos fossem roubados de seu computador. Mesmo que o relato seja verdadeiro, porém, incluí-lo suscita dúvidas que pouco têm a ver com o tema central da obra.
Pode-se argumentar que, na passagem citada, Ribeiro Jr reafirmou sua imparcialidade, esclareceu as acusações de que foi vítima e até vingou-se dos golpes sujos que sofreu. Mas ele também jogou uma estranha semente de rejeição no único partido com força política para pressionar o Legislativo e o Judiciário rumo às investigações que a obra reivindica. Do ponto de vista estratégico, é um equívoco rudimentar, pois atrai a repulsa generalizada para a reportagem. Talvez o autor já estivesse prevendo a má-vontade dos petistas com a CPI, fornecendo uma pista para explicá-la. Mas não seria mais prudente conceder uma chance ao livro, em vez de aniquilá-la no primeiro momento?
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