Novo esforço do comediante Will Ferrell para ser considerado um ator dramático. Não chega a decepcionar, talvez porque evite os extremos da visceralidade hiper-realista de certo cinema autoral contemporâneo.
A premissa vem de um conto de Raymond Carver (1938-88), “Por que não dançam?”, da coletânea “Do que estamos falando quando falamos de amor”. Mas o roteiro preserva apenas o tema central de quase toda a obra de Carver, o alcoolismo e suas conseqüências, que afligiram o escritor desde a juventude até a morte prematura de câncer. A rápida cena descrita no conto não acontece e o gosto é um pouco de traição ao original.
O universo de Carver, amargurado e pessimista, impermeável a concessões melodramáticas, foi transformado para receber uma história de amizade e esperança. As doses cavalares de uísque e cigarro viraram latinhas de cerveja e churrascos no jardim. Onde o passado é irrelevante, as relações são vazias e a decadência inevitável, surgem boas memórias, solidariedade, recomeços.
As mudanças geraram um entretenimento agradável, que apazigua os fantasmas dessa cultura fanática pelas ilusões de salubridade. Mas não fazem justiça a um dos maiores autores da literatura estadunidense contemporânea (com quem, aliás, Farrell é bastante parecido). “Short cuts” (1993), de Robert Altman, foi mais fiel a ele, atingindo resultado superior.
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