quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

A cidade em questão



A especulação imobiliária nas regiões “revitalizáveis” canaliza boa parte do repúdio às desapropriações e às ações repressivas da polícia. A chamada gentrificação é mesmo um escândalo a ser combatido. Mas devemos considerar também os milhares de proprietários que moram, trabalham ou geram empregos naquelas áreas e que também se beneficiariam de eventuais melhorias nas redondezas. Há ainda mais gente que poderá encontrar oportunidades nos futuros empreendimentos que substituiriam os prédios abandonados e os terrenos ociosos. Um imenso potencial turístico, histórico, residencial, comercial e cultural poderia aflorar com essas transformações.

Ao mesmo tempo, contudo, o tema extrapola o âmbito social que tem monopolizado as discussões. Todos os anos, a ganância empresarial amontoa verdadeiras populações em bairros destituídos de infra-estrutura e serviços, que um dia abrigaram comunidades carentes e pequenas propriedades rurais. Esses minúsculos e supervalorizados apartamentos com paredes de gesso que se espremem pelos arrabaldes do caos urbano nascem da mesma engrenagem que produz favelas, desabrigados, shoppings centers, condomínios fechados e milícias privadas à custa da ineficácia do Poder Público.

Por isso o futuro das pauperizadas regiões centrais deve ser englobado por um debate urbanístico de vastas proporções. A preservação dos direitos dos ocupantes e o tratamento humanitário a dependentes de drogas e moradores de rua são importantes, mas constituem problemas de naturezas diversas. Misturá-los é abrir caminho para mistificações e demagogias desnecessárias.

Nenhum comentário: