quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Uma segunda Guerra Fria?



A diplomacia internacional observa com cautela a mais recente troca de vitupérios entre EUA e Irã. O que diferencia as circunstâncias atuais é o calendário eleitoral estadunidense, que poderia exigir uma demonstração de pulso da administração Barack Obama para neutralizar a eterna propaganda republicana a favor do intervencionismo.

Obama já demonstrou que continua refém de interesses ligados à indústria da guerra, essa macabra fonte de riquezas que abarcam desde a tecnologia extremamente avançada até o escoamento de combustível para imensas regiões populacionais estratégicas. E o lobby israelense, que tem uma força descomunal em Washington, acompanha a gradativa animosidade do gabinete belicista de Benjamin Netanyahu.

Mas por enquanto não parece haver motivos para o catastrofismo de alguns. O discurso agressivo da imprensa dos EUA e de Israel não encontra eco nas pesquisas de opinião realizadas junto aos respectivos eleitorados. O abandono do Iraque pelas forças estadunidenses também serviu para esfriar o ímpeto guerreiro de Netanyahu, que perdeu assim uma importante base para eventuais ataques ou invasões ao Irã. As turbulências na Síria (fadada a um ataque iminente), na Líbia e no Egito e as convulsões latentes em quase todo o mundo árabe levaram as potências européias a uma postura de apreensiva expectativa que está longe da ação militar ostensiva.

Ademais, Obama e seus aliados jamais entrariam numa guerra de resultado incerto contra um inimigo da força humana, material e política do Irã. Eles sabem que China e Rússia fariam oposição ferrenha a agressões contra um território de tamanho valor geopolítico. Uma constelação de republiquetas e tribos militarizadas abriria inúmeros focos de conflitos regionais que se espalhariam além dos limites da África e da Ásia. Na combalida Europa, com seu crescente antiamericanismo e suas largas populações imigrantes, a própria reação popular tomaria rumos imprevisíveis.

Como nos turbulentos anos posteriores à II Guerra Mundial, o cenário remete a um conflito de proporções planetárias que ninguém está preparado para enfrentar. Nem a suposta “ameaça” de um arsenal nuclear iraniano soa grave o suficiente para fazer de Obama, Netanyahu, Nicolas Sarkozy e Vladimir Putin os primeiros genocidas do novo milênio.

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