A abordagem intimista salienta os paradoxos do biografado, sem cometer o equívoco de torná-lo mais simpático do que mereceria. O enfoque na homossexualidade é fundamental para evidenciar as idiossincrasias de um burocrata reacionário, chantagista e ególatra como John Edgar Hoover, e as do próprio espírito conservador que ele simboliza. Mas também sugere que seu caráter monstruoso tem alguma origem na insatisfação sexual, na insegurança e nas carências que o assolaram – e esse esboço de vitimização pode soar um tanto questionável.
O convencionalismo narrativo de Clint Eastwood ganha muito com a fotografia contrastada de Tom Stern e com o roteiro de Dustin Black (do excelente “Milk”), que parte das mistificações ditadas pelo idoso Hoover para sua autobiografia. Mas a caracterização dos personagens envelhecidos não convence, por culpa da maquiagem, porque falta aos atores a necessária preparação corporal e ainda porque é fisicamente impossível deixá-los parecidos com os modelos reais. Mesmo temerária, a opção por intérpretes diferentes para cada época talvez atingisse um resultado mais satisfatório, fazendo jus ao elenco jovem, talentoso e subaproveitado.
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