O motorista que confia nos boletins regulares de trânsito veiculados em rádios, TVs e sites paga caro pela credulidade. Na rodovia dos Bandeirantes, por exemplo, há obras quase perenes que ocupam faixas do sentido capital-interior e causam congestionamentos cotidianos de vários quilômetros, mas nenhum desses transtornos costuma ser citado pelos informes diários. O mesmo acontece nas grandes malhas urbanas cobertas pelo noticiário.
A discrepância advém principalmente do hábito de se reproduzir fontes oficiais sem checá-las. As concessionárias das rodovias edulcoram o serviço mambembe que prestam a custos altíssimos para o contribuinte, no que são imitadas pelas autoridades municipais e estaduais, receosas de prejudicarem suas reputações. O jornalismo preguiçoso participa da farsa e utiliza-a para alimentar a própria imagem de utilidade pública. Na pior das hipóteses, a citação anódina do informante e a alegação do evento fortuito ajudam a dissipar responsabilidades.
Mas o problema tem uma face obscura. A disparidade entre os meios disponíveis de verificação (câmeras, helicópteros, testemunhos) e a dura realidade enfrentada pelos condutores induz a suspeitar de uma simples incompetência da mídia. Até nos relatos mais diretos parece haver um desleixo consciente no uso da terminologia descritiva: “tráfego pesado”, “grande fluxo”, “pontos de lentidão” e outros jargões usuais tornaram-se eufemismos para obscurecer aquilo que é apenas um caos permanente dos transportes nas metrópoles e nas vias que as interligam. O uso continuado desses termos esvazia-os de significação e dá uma aparência de rotineira normalidade a algo que deveria ser denunciado e combatido.
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