Os jornais dos últimos dois dias contrariaram a suspeita de que a grande mídia se aliou ao Planalto para desqualificar os grevistas
da União. “Folha”, “Estado de São Paulo”, “Correio Brasiliense” e “Metro” deram
primeira página ao tema, com variados graus de catastrofismo e pouca ou nenhuma
crítica negativa aos trabalhadores. Reação oposta àquela diante da esquisitíssima paralisação dos metroviários paulistanos.
Falta um debate objetivo sobre se os salários e as
prerrogativas de certos setores do funcionalismo público federal merecem tamanha
indignação e justificam os transtornos causados aos contribuintes. Tudo bem analisar
reivindicações isoladas, mas, se a discussão versará sobre o valor “justo” dos
rendimentos, a prudência recomenda que usemos alguma base comparativa no
próprio país e entre categorias laborais semelhantes.
Quanto ganham os professores das inúmeras faculdades
privadas, que abrigam o enorme excedente acadêmico brasileiro? Que benefícios recebem?
Existe banco de horas? Faltas abonadas? Plano de carreira? Façamos o mesmo levantamento
(sempre observando a titulação) com os docentes dos sistemas estaduais e
municipais, de primeiro e segundo graus. Agora analisemos as informações das
universidades federais à luz desse quadro.
[Mas atenção: cada vez que alguém sugerir que o
trabalho num campus “vale mais” que no EEPSG caindo aos pedaços da periferia, será
banhado em groselha e passará por um corredor polonês de professores subvalorizados].
Admitamos, no entanto, que um miserê não abona
outro, que direitos não são privilégios, etcetera. É possível, legal e
economicamente, atender às exigências? As contas batem? De onde sairá a verba que
ultrapassar o orçamento planejado? Não caberia ao Congresso discutir isso? E a tal
crise? Uma despesa milionária extra não aumentaria a vulnerabilidade do país?
São contas ardilosas, mas os sindicatos possuem
meios e quadros para efetuá-las. O velho ramerrão das “mamatas que enriquecem
os parasitas dos gabinetes” soa justo, mas tem rala serventia para o caso. Falta
investigar planilhas, esfregar os dedinhos nos números, dar-se ao trabalho de satisfazer
a curiosidade da platéia que paga impostos e nem cogita arriscar o pescoço numa
greve.
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