Terminou um tanto melancolicamente a passagem de
Ana de Hollanda pelo Ministério da Cultura. Sua gestão viveu à sombra do excelente
trabalho dos predecessores Gilberto Gil e Juca Ferreira, incapaz de substituí-lo
por um novo modelo administrativo. Sob ataques intermitentes de certas alas da militância
cultural, nem sempre justos e desinteressados, a ex-ministra falhou em
organizar uma base de apoio junto aos setores representativos que poderiam defendê-la
na crise derradeira.
Questionar as simplificações que embasaram algumas
dessas críticas não significa ignorar os equívocos do ministério. Polêmicas menores
(a licença Creative Commons) e distorções inaceitáveis (o blog de Maria Bethania) serviram
para conturbar debates profundos sobre as questões pendentes na área. O tema
dos direitos autorais, por exemplo, foi reduzido a briguinha ideológica rasteira.
As carências no setor são tamanhas, porém, que suplantam
a elaboração de qualquer política cultural ampla, embasada e coerente. Edifícios
e acervos arruinados, filmes brasileiros ignorados pelo circuito exibidor, literatura
desprestigiada, monopolização corporativa dos incentivos fiscais, cada imenso
nó estrutural pede ações específicas que dispensam os exercícios teóricos
desejáveis em circunstâncias mais positivas. A festejada habilidade política de
Marta Suplicy talvez ajude a criar condições para que essas medidas pontuais sobrevivam
às intrigas de gabinete.
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