Um edital de incentivo à criação literária da
Fundação Biblioteca Nacional exigia que os projetos para romance, conto e
poesia não “caracterizassem” atividades criminosas. A Apple coloca asteriscos
para vedar a palavra “vagina” em seus aplicativos. A Academia Brasileira de
Letras suspendeu a transmissão virtual de uma palestra de Jorge Coli sobre sexo
e pornografia, por exibir, entre outras, a tela "A origem do mundo" (Gustave Courbet, 1866).
É difícil acreditar que, em pleno século XXI, ainda
se cogite a possibilidade de obras fictícias realizarem apologia de qualquer
tipo. Que alguém se sinta constrangido por uma palavra dicionarizada, de uso
ancestral, livre de significados pejorativos. Que uma pintura universalmente famosa,
exposta no museu D’Orsay de Paris, seja considerada “pornográfica”, ou mesmo “imprópria”
para menores de 18 anos.
Que o retrato artístico de uma vulva peluda pareça
ofensivo.
Poderíamos afirmar que essas demonstrações de imbecilidade
explícita remetem a períodos de truculência fardada, mas não seria exato. Acontece todo dia, e cada vez mais, em nome de boas intenções e excrescências jurídicas.
Essas personificações moralistas do espírito repressor, tão orgulhosamente hipócritas
e obtusas, são típicas do conservadorismo que já caracteriza a cultura mundial
no início do século. É o lado nefasto do admirável mundo virtual.
Como sempre, mestre Coli matou a charada: “(...) a
ABL ilustrou, de modo preciso, o acerto de minha tese sobre a hipocrisia
pudibunda (termo no qual certamente ela ainda censurará as duas últimas
sílabas) de nosso tempo. Não apenas os acadêmicos são imortais: eles também não
têm sexo, como os anjos.”
2 comentários:
Merecem um pé na Bunda .
Nojo desse conservadorismo. Valeu pela divulgação!
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