O “motivo” proposto, A Iminência das Poéticas, sugere
expectativa latente, processo irresoluto, vir-a-ser vazio de significados definitivos,
mas prenhe de possibilidades interpretativas. Esses conceitos (e sua
tematização) parecem tão característicos da arte contemporânea que chegam a
anunciar uma pretensão impossível, ou um labirinto especulativo demasiado
sujeito a equívocos e recortes aleatórios. Mesmo o texto de apresentação do
evento classifica a Iminência como “lugar”, termo estranho à premissa.
Mas a curadoria de Luis Pérez-Oramas é
surpreendentemente bem-sucedida no recorte complicado que se propõe. Em vez de
apenas confirmar a inevitável natureza aberta, fragmentária e provocativa do
repertório disponível, a maioria das obras selecionadas faz desse estatuto um
meio de questionamento do próprio discurso artístico e do papel do artista na
sociedade. Mesmo alguns trabalhos que resistem à pretendida abrangência de
leituras e problematizações possuem valor estético inegável, que não deixa de
contribuir para a apreensão do conjunto expositivo. Mas faltou Beuys, de novo.
Os destaques possíveis envolvem múltiplos
suportes: muita fotografia (Iñaki Bonillas e Ilene Segalove), alguma escultura (Tiago
Carneiro da Cunha), pouca pintura (Juan Iribarren), colagem (Juan Luís Martinez), instalação (Meris Angioletti), objetos (Savvas Christodoulides e Arthur
Bispo do Rosário) e, principalmente, a performance em suas diversas
possibilidades (Eduardo Gil, Tehching Hsieh, Alberto Casari e Martín Legón). A
investigação antropológica é constante e às vezes perturbadora.
Graças ao comprometimento que exige do público, ao
caráter narrativo dos trabalhos e ao detalhismo predominante, não é experiência
que se realiza plenamente numa visita curta ou apressada.
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