Sabíamos que a cobertura jornalística do julgamento
do chamado “mensalão” serviria bem à agenda eleitoral conservadora. A hidrofobia
antipetista dos magistrados cabe na moldura do relato “imparcial”, isenta os
veículos de uma abordagem equilibrada e possui um caráter definitivo que dispensa
contrapontos técnicos.
Os vinte minutos dedicados ao tema pela Rede
Globo, em pleno Jornal Nacional, revelam que a mídia corporativa aprendeu com o
primeiro turno e que não está disposta a tolerar novas surpresas. Se o
oportunismo ético dos admiradores de Joaquim Barbosa foi insuficiente para impedir
as arrancadas petistas no momento decisivo (e se eles não dispõem de melhores
alternativas), a saída é fomentar o descrédito nos rituais democráticos, inibindo
a afluência às urnas e incentivando o conformismo em relação às expectativas de
vitória.
A estratégia é eficaz e preocupante, mas não
isenta de riscos. As pesquisas tanto procuraram forçar tendências no eleitorado
que chegaram a um ponto de falseamento no qual seus próprios manipuladores
perderam a noção do quadro real. Como alguém que atira a esmo porque não
consegue enxergar a ameaça, o jornalismo demotucano tenta prevenir o perigo
vermelho sem dimensioná-lo ou mesmo compreender suas origens.
Basta um pequeno erro de tom, e um marqueteiro hábil
devolve a insegurança estatística pela culatra dos sabichões.
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