Discutir fórmulas de disputa futebolística pelos méritos
ideais dos sistemas é exercício interminável de subjetividade. Não existem
modelos mais “justos” que outros, pois cada critério pede aptidões distintas. Podemos
preferir disputas que exigem prudência e regularidade, ou as que favorecem o
ímpeto e a surpresa, mas todas guardam lógicas defensáveis segundo os ambientes
competitivos a que se destinam.
O debate começa a ficar menos relativo quando
chegamos a um nível conjuntural e prático, ou seja, às condições materiais que acompanham
as fórmulas classificatórias adotadas. Ora, é evidente que os possíveis benefícios
dos pontos corridos só existem quando os adversários compartilham situações
financeiras minimamente equilibradas. O privilégio econômico destrói a natureza
igualitária do sistema e permite à rede Globo e a seus patrocinadores, através
da escandalosa distribuição desigual das verbas televisivas, manipularem os resultados
finais dos Campeonatos Brasileiros. Todo ano, invariavelmente, as oito melhores
posições são ocupadas por clubes que arrecadam mais. E sempre será assim
enquanto imperar essa cômoda “justiça” de mão única.
A festejada “competência” do Fluminense deve ser entendida
apenas pela superação de outros clubes que possuíam os mesmos benefícios.
Tomada como valor absoluto, a ideia distorce a realidade e fornece pretextos para
que julguemos os meios de acordo com os fins alcançados. Burlar regras e pressionar
juízes, por exemplo, também seriam sinônimos de “competência”, desde que
levassem a vitórias impunes.
Não se trata de questionar a legalidade do título
tricolor (não pelo aspecto em pauta), mas de lembrar que ele foi conquistado através
de mecanismos exteriores ao domínio esportivo. Basta imaginar o clube sem três ou
quatro de seus jogadores mais caros. A superioridade técnica de um corredor que
vencesse adversários descalços não soaria razoável, mas no futebol regalias semelhantes
parecem naturais.
A maioria dos admiradores dos pontos corridos se
esforça para preservar as boas intenções do modelo, repudiando o favorecimento
econômico da elite. Acontece que as duas coisas são indissociáveis. O método de
pontos corridos é a fachada imparcial de um mecanismo corrompido que de outra
maneira não teria a mesma eficácia (os sistemas eliminatórios estão sujeitos a
contingências indesejáveis). Portanto, elogiar os pontos corridos implica
necessariamente defender os interesses de uma rica minoria que se locupleta da decadência do futebol nacional.
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