Estão certos os estudantes de medicina que se
negam a prestar o exame do Cremesp. Não apenas porque o teste possui utilidade
questionável, ou porque foi imposto sem as muitas discussões que merece. Tudo
isso é verdade. Mas os formandos estão certos principalmente porque fornecem
uma rara demonstração de que o direito de contrariar as exigências do Conselho
de Medicina suplanta seus discursos bem-intencionados. Os futuros advogados não possuem a mesma sorte.
Provas teóricas são insuficientes para avaliar profissionais
de áreas que dependem de contingências imprevisíveis e que possuem natureza
eminentemente prática. Se os conselheiros estão preocupados em melhorar o nível
do atendimento médico no país, há poucas e boas alternativas possíveis. Por
exemplo, determinar que os pacientes de todas as consultas clínicas devem receber diagnósticos escritos, carimbados e assinados pelos doutores.
Acontece que essas medidas dão trabalho demais e
lucros de menos para os nobres reguladores. E deixemos de
hipocrisia: o propósito inconfesso do
Cremesp é gerar um fato consumado (a aceitação do exame) para depois forçar a
sua obrigatoriedade legal. Então o Conselho ganharia uma fonte milionária de
recursos, além da tributação disfarçada que já impõe aos associados.
Aliás, uma ótima demonstração do espírito desapegado
e republicano do órgão seria registrar o compromisso de sempre manter a prova
nos moldes gratuitos atuais. Ou propor que sua incumbência seja transferida ao
Poder Público, revertendo a dinheirama para um fundo de amparo às vítimas de
erros médicos.
É estranha a lógica das guildas arrecadadoras. Reclamam
do aparato estatal, mas reivindicam as mesmas prerrogativas. Falam em nome da
sociedade, mas não gostam que abelhudos se metam nos seus assuntos. Defendem a melhoria
dos serviços que elas próprias deveriam fiscalizar, mas preferem constranger
aspirantes e reclamar das escolas.
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