segunda-feira, 12 de novembro de 2012

O bom conselho



















Estão certos os estudantes de medicina que se negam a prestar o exame do Cremesp. Não apenas porque o teste possui utilidade questionável, ou porque foi imposto sem as muitas discussões que merece. Tudo isso é verdade. Mas os formandos estão certos principalmente porque fornecem uma rara demonstração de que o direito de contrariar as exigências do Conselho de Medicina suplanta seus discursos bem-intencionados. Os futuros advogados não possuem a mesma sorte.

Provas teóricas são insuficientes para avaliar profissionais de áreas que dependem de contingências imprevisíveis e que possuem natureza eminentemente prática. Se os conselheiros estão preocupados em melhorar o nível do atendimento médico no país, há poucas e boas alternativas possíveis. Por exemplo, determinar que os pacientes de todas as consultas clínicas devem receber diagnósticos escritos, carimbados e assinados pelos doutores.

Acontece que essas medidas dão trabalho demais e lucros de menos para os nobres reguladores. E deixemos de hipocrisia: o propósito inconfesso do Cremesp é gerar um fato consumado (a aceitação do exame) para depois forçar a sua obrigatoriedade legal. Então o Conselho ganharia uma fonte milionária de recursos, além da tributação disfarçada que já impõe aos associados.

Aliás, uma ótima demonstração do espírito desapegado e republicano do órgão seria registrar o compromisso de sempre manter a prova nos moldes gratuitos atuais. Ou propor que sua incumbência seja transferida ao Poder Público, revertendo a dinheirama para um fundo de amparo às vítimas de erros médicos.

É estranha a lógica das guildas arrecadadoras. Reclamam do aparato estatal, mas reivindicam as mesmas prerrogativas. Falam em nome da sociedade, mas não gostam que abelhudos se metam nos seus assuntos. Defendem a melhoria dos serviços que elas próprias deveriam fiscalizar, mas preferem constranger aspirantes e reclamar das escolas. 

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