Inquérito recém-nascido, personagens caricaturados,
violações de privacidade, fariseus babando regras morais: já vimos esse filme tantas vezes que podemos antever seus desdobramentos. O noticiário gastará o
tema até o limite da idiotia, alimentado por informantes obscuros e “apurações”
de bastidores. A Veja excretará falsas entrevistas e difamações, que a imprensa
dita “séria” reproduzirá como se tivessem mínima credibilidade. Propagadores
involuntários desses veículos, alguns blogueiros progressistas contribuirão
para legitimar fofocas e imbecilidades.
As mentiras receberão desculpas e correções
discretas, num futuro longínquo, mas os prejuízos causados a inocentes restarão
impunes e irremediáveis. Alguém talvez encontre um conveniente uso do foro
privilegiado para que o STF desempenhe de novo seu teatro saneador de mão única.
No final, pouco importará se a administração
demotucana de São Paulo perpetua milhares de cargos políticos e esquemas de
apadrinhamento semelhantes aos orquestrados por Rosemary Noronha, ou ainda mais
obscuros e lesivos do que eles. Pouco importará, aliás, discutir uma rotina da
vida política brasileira característica até dos menores municípios. A questão é
transformá-la em marca exclusiva do PT, como o chamado “mensalão” e outras
novidades que há uma década ninguém ousava enxergar, por exemplo, nos lídimos e
transparentes governos FHC.
Depois das bebedeiras e da ameaça de violência sexual, Lula agora recebe a pecha de adúltero safado. Esse tipo de baixaria não
o atinge por acaso. É a reprodução de uma imagem vulgar que o preconceito
elitista associa à própria gentalha que forma a sua base eleitoral. E é
vulgaridade conveniente a salas de espera e balcões de botequim, onde qualquer
sinal de astúcia pode insinuar perigosas ambigüidades estadistas à figura do tosco
líder operário.
Mas convém desconfiar da versão de que o núcleo do
governo foi pego de surpresa com a iniciativa “secreta” da Polícia Federal. O
desabamento do esquema de Rosemary Noronha teve beneficiários no próprio PT,
para não citar uma administração preocupada com sua imagem pública e lideranças
empenhadas em estabelecer rupturas com as redes de influência herdadas da era
Lula. Ademais, Dilma e o ministro José Eduardo Cardozo não se encaixam com
facilidade na fantasia de mandatários que perdem o controle dos subordinados. Acontece
que a indicação de sagacidade proibida a Lula, no caso da sua sucessora, periga denotar lisura e respeito pelas instituições.
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