quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

As lágrimas de Obama














É impossível estabelecer motivos isolados para tantas chacinas de crianças nos EUA. Há o comércio de armas, evidentemente, mas a incompetência pedagógica, o desrespeito dos colegas e a insanidade dos próprios matadores não podem ser desprezados. Acontece que mesmo esses fatores estão presentes em muitos outros países, sem necessariamente culminar de forma trágica. Que espécie de faísca macabra potencializa as influências negativas e faz dos EUA o campeão mundial de uma forma tão peculiar de violência doméstica?

A resposta parece cultural, no sentido mais profundo e nuclear do conceito. Muito além de simplificações acerca do entretenimento de massas e da apologia da violência, a intelectualidade local e a administração Barack Obama deveriam refletir sobre a falência da ideia de pertencimento nacional dos cidadãos. Em outras palavras, sobre a ruína dos símbolos identitários, coletivamente reconhecidos e respeitados, que forjam um elo mínimo de comunhão entre indivíduos da mesma comunidade.

Violências estúpidas como a de Newtown não podem ser dissociadas do campo de concentração de Guantánamo, dos bombardeios de civis desarmados, do confinamento brutal de um soldado que denunciou violações de direitos humanos e da tortura de prisioneiros de guerra. A desejada tolerância da sociedade perante os abusos do governo militarizado é, na verdade, um tipo de cinismo que se torna cada vez mais ressentido, destrutivo e indiferente à dor humana. Que valores deveriam nortear a juventude se o próprio governo federal, símbolo do peculiar patriotismo estadunidense, lhe fornece os piores exemplos?

A imagem de Obama chorando pelas crianças mortas, depois de autorizar o assassinato de tantas outras pelo planeta, talvez tenha um efeito bastante imprevisto sobre a audiência.

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