segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Derrota da obsolescência



As análises veiculadas na mídia corporativa sobre a renúncia de Bento XVI são de um provincianismo comovente. Para disfarçar a ignorância dos bastidores políticos do Vaticano, exageram nas loas pessoais ao papa, amiúde retratado como um espírito puro pressionado por interesses malsãos.

Pode mesmo sê-lo. Mas pode também ter feito um acordo para que os adversários ocultassem os horríveis segredos coletados por seu secretário, guardados à espera de alternativa mais rentável que a destruidora divulgação pública. Pensando no ineditismo dos escândalos recentes (comparáveis apenas ao da própria renúncia), envolvendo clérigos pedófilos e suspeitas de corrupção no banco mais obscuro do planeta, a opção menos ingênua soa bastante apropriada.

O episódio sintetiza a decadência histórica do projeto reacionário assumido pelo antigo inquisidor Joseph Ratzinger, ex-soldado de Hitler, para neutralizar os avanços do Concílio progressista de 1962. Nada que justifique otimismo desmesurado, até porque a relevância prática do caso é discutível. Mas não deixa de haver uma curiosa simbologia na figura do pontífice de discurso mumificado, homofóbico e machista, sucumbindo à putrefação que, afinal, ele mesmo deveria combater.

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