As análises veiculadas na mídia corporativa sobre
a renúncia de Bento XVI são de um provincianismo comovente. Para disfarçar a
ignorância dos bastidores políticos do Vaticano, exageram nas loas pessoais ao
papa, amiúde retratado como um espírito puro pressionado por interesses
malsãos.
Pode mesmo sê-lo. Mas pode também ter feito um
acordo para que os adversários ocultassem os horríveis segredos coletados por seu
secretário, guardados à espera de alternativa mais rentável que a destruidora
divulgação pública. Pensando no ineditismo dos escândalos recentes (comparáveis
apenas ao da própria renúncia), envolvendo clérigos pedófilos e suspeitas de
corrupção no banco mais obscuro do planeta, a opção menos ingênua soa bastante
apropriada.
O episódio sintetiza a decadência histórica do
projeto reacionário assumido pelo antigo inquisidor Joseph Ratzinger, ex-soldado
de Hitler, para neutralizar os avanços do Concílio progressista de 1962. Nada
que justifique otimismo desmesurado, até porque a relevância prática do caso é
discutível. Mas não deixa de haver uma curiosa simbologia na figura do
pontífice de discurso mumificado, homofóbico e machista, sucumbindo à
putrefação que, afinal, ele mesmo deveria combater.
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