Todos no ramo sabem que a precarização do trabalho do jornalista é disseminada, mesmo nos veículos de grande porte. Nas melhores hipóteses, os profissionais, especialmente os jovens, são obrigados a constituir “pessoas jurídicas”, firmando contratos que atropelam a legislação trabalhista. Nas piores circunstâncias, eles sofrem prejuízos e violações de direitos, submetendo-se para sobreviver num mercado cuja saturação desestimula rebeldias.
Essa realidade, corriqueira em muitos ramos empresariais, tem sido tolerada pelo Ministério Público e pelas instâncias
específicas do Judiciário, tão combativas em situações menos incontroversas.
Que o discurso legalista de certos órgãos informativos conviva com práticas amorais
nas suas relações de trabalho apenas contribui para o anedotário do farisaísmo
que domina a mídia corporativa.
As dificuldades financeiras da Caros Amigos são
antigas e têm particularidades legais e administrativas que desaconselham
juízos afoitos. O mesmo vale para as demissões na revista. O aspecto alarmante
do episódio, no entanto, é a omissão da esquerda institucionalizada perante a
crescente agonia dos veículos alternativos impressos.
Talvez o governo Dilma pudesse aprimorar o projeto
de descentralização dos investimentos publicitários federais, colocando freios
na influência da bancada midiática do Congresso e ignorando as críticas ao
suposto dirigismo petista, que, afinal, visam justamente preservar o poder das
empresas hegemônicas. Mas também as administrações estaduais e municipais da
vasta base supostamente “aliada” possuem meios para incentivar as publicações
desprezadas pelo capital privado. Não lhes faltariam justificativas éticas, republicanas,
educativas e até filosóficas para o gesto.
Falta-lhes, sim, compreender o caráter estratégico
do problema, inclusive (mas não apenas) sob o aspecto do pragmatismo eleitoral.
As lideranças progressistas das mais diversas áreas de atuação precisam debater
o assunto e orquestrar movimentos para impedir o triunfo do monopólio conservador
na imprensa brasileira. Apresentando novas fontes de recursos, estratégias de
divulgação, campanhas para assinaturas, eventos especiais, parcerias e
permutas. Ficar lamentando o destino de hipotéticos marcos regulatórios só
ajuda a evitar o verdadeiro problema.
Nenhum comentário:
Postar um comentário