Essa vai para o anedotário da demofobia universal: não é permitido ler no Real Gabinete Português de Leitura. Apenas obras do acervo local, restritas a usuários cadastrados. Quem puxa uma cadeira e ameaça abrir um livro próprio, ou um jornalzinho básico, recebe a visita de uma suave funcionária que vem negar o mimo.
“Porque não pode”, ela responde, já menos
simpática, à indagação óbvia. O mistério nos autoriza imaginar que se trata de medida
para uma espécie (mal) disfarçada de assepsia social. Temor de que a
sacralidade solene do ambiente seja conspurcada pelo populacho ignóbil.
O Real Gabinete é um verdadeiro tesouro
arquitetônico, oásis oculto no abandono da região central carioca. Mas essa
pretensão a templo de iniciados viola os mais rudimentares conceitos modernos
de museologia e administração de aparelhos culturais. Vira gesto característico
daquela nobreza colonial que, não à toa, recebeu o devido pagamento histórico
na forma de chacota.
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