Yoani Sánchez conseguiu a visibilidade que
pretendia em sua rápida passagem pelo país. É bem verdade que a truculência dos
radicais terminou servindo mais aos propósitos da blogueira do que ao seu
eventual desmascaramento. Mas, bolas, os achaques dos manifestantes fazem parte
da complexa dinâmica da democracia que ela afirma defender. Se exibissem o
mesmo comportamento em Cuba, contra dirigentes do governo, as imagens seriam
vendidas como a Primavera Caribenha.
Não consigo determinar o momento em que Yoani
deixa de parecer uma personagem plausível para se tornar um enigma incômodo,
mas essa ruptura existe. Há algo de incongruente na figura da jornalista
cativante e articulada circulando em turnê, sendo recebida no Congresso
Nacional, inclusive por figuras da direita mais reacionária, e concedendo
entrevistas aos maiores veículos de comunicação.
Talvez seja por causa de certa vaziez programática
do discurso calcado na denúncia do regime autoritário cubano. Porque este se
alimenta do obsceno bloqueio estadunidense, porque a ditadura é um meio cruel
de domesticação exercido por Washington e porque o governo desfruta, sim, de
apoio popular considerável. Ignorando as complexidades locais e geopolíticas em
jogo (salvo quando provocada, e mesmo assim de maneira deveras cuidadosa), a
moça adquire um ar messiânico cheio de piscadelas ideológicas.
Talvez ainda me ressinta das respostas que ela fornece
às incômodas questões de natureza prática formuladas por seus adversários. Algumas perguntas são procedentes, e as poucas explicações de Yoani parecem menosprezar
a seriedade dos temas. Reafirmar o caráter independente, pessoal e voluntário
do seu blog, por exemplo, soa inverossímil. Que os conservadores da mídia
brasileira minimizem certas lacunas (“pouco importa se ela recebe dinheiro do
governo dos EUA”) é sintomático da sua relevância.
Desconfio há tempos desses mitos da internet que personificam
uma experiência humana mais promissora e libertária. Questiono principalmente a
necessidade contemporânea de aparentar “isenção”, como se isso fosse possível,
desejável ou mesmo estrategicamente eficaz. Os defensores incondicionais de
Yoani abraçam as duas ilusões.
5 comentários:
É abraçado às minhas ilusões
que deixo de seguir este blogue.
Herculano, só posso lamentar sua decisão. Se depois preferir uma saída menos radical, sinta-se bem-vindo para debater qualquer assunto. Um abraço do
Guilherme
Contagem regressiva para o petista reprimido chorar a morte do Chavez.
E para a direita golpista festejá-la.
Será que ela sabe que é o Bolsonaro? kkkkkkkk Que piada essa foto. Quando será que ela vai perder a utilidade? Quando inaugurarem um Mac em Cuba ou quando os Castros morrerem?
Postar um comentário