segunda-feira, 4 de março de 2013

Yoani se foi














Yoani Sánchez conseguiu a visibilidade que pretendia em sua rápida passagem pelo país. É bem verdade que a truculência dos radicais terminou servindo mais aos propósitos da blogueira do que ao seu eventual desmascaramento. Mas, bolas, os achaques dos manifestantes fazem parte da complexa dinâmica da democracia que ela afirma defender. Se exibissem o mesmo comportamento em Cuba, contra dirigentes do governo, as imagens seriam vendidas como a Primavera Caribenha.

Não consigo determinar o momento em que Yoani deixa de parecer uma personagem plausível para se tornar um enigma incômodo, mas essa ruptura existe. Há algo de incongruente na figura da jornalista cativante e articulada circulando em turnê, sendo recebida no Congresso Nacional, inclusive por figuras da direita mais reacionária, e concedendo entrevistas aos maiores veículos de comunicação.

Talvez seja por causa de certa vaziez programática do discurso calcado na denúncia do regime autoritário cubano. Porque este se alimenta do obsceno bloqueio estadunidense, porque a ditadura é um meio cruel de domesticação exercido por Washington e porque o governo desfruta, sim, de apoio popular considerável. Ignorando as complexidades locais e geopolíticas em jogo (salvo quando provocada, e mesmo assim de maneira deveras cuidadosa), a moça adquire um ar messiânico cheio de piscadelas ideológicas.

Talvez ainda me ressinta das respostas que ela fornece às incômodas questões de natureza prática formuladas por seus adversários. Algumas perguntas são procedentes, e as poucas explicações de Yoani parecem menosprezar a seriedade dos temas. Reafirmar o caráter independente, pessoal e voluntário do seu blog, por exemplo, soa inverossímil. Que os conservadores da mídia brasileira minimizem certas lacunas (“pouco importa se ela recebe dinheiro do governo dos EUA”) é sintomático da sua relevância.

Desconfio há tempos desses mitos da internet que personificam uma experiência humana mais promissora e libertária. Questiono principalmente a necessidade contemporânea de aparentar “isenção”, como se isso fosse possível, desejável ou mesmo estrategicamente eficaz. Os defensores incondicionais de Yoani abraçam as duas ilusões.

5 comentários:

O Neto do Herculano disse...

É abraçado às minhas ilusões
que deixo de seguir este blogue.

Unknown disse...

Herculano, só posso lamentar sua decisão. Se depois preferir uma saída menos radical, sinta-se bem-vindo para debater qualquer assunto. Um abraço do
Guilherme

Sauro disse...

Contagem regressiva para o petista reprimido chorar a morte do Chavez.

Paulo disse...

E para a direita golpista festejá-la.

Felipe disse...

Será que ela sabe que é o Bolsonaro? kkkkkkkk Que piada essa foto. Quando será que ela vai perder a utilidade? Quando inaugurarem um Mac em Cuba ou quando os Castros morrerem?