Concordo que a complacência perante as liberalidades tomadas nas redações do Enem precisa ser discutida. A ruptura dos
padrões formais socialmente aceitos (ou impostos) e da linguagem dita “culta”
pressupõe um domínio prévio desses modelos. E também implica o discernimento
das circunstâncias mais apropriadas para os diferentes tipos de manifestação
escrita.
O nível da formação dos estudantes que ingressam
na universidade é baixíssimo, e em muitos casos chega ao completo despreparo
para qualquer atividade acadêmica. Professores de faculdades são obrigados cada
vez mais a instruir seus alunos em rudimentos que deveriam ter sido assimilados
já no colegial, senão antes. O problema, gravíssimo e subestimado, atinge
alunos oriundos de todas as classes sociais. Boa parte da tolerância com os supostos
gestos de rebeldia juvenil pretexta lutar contra os enquadramentos para não
enfrentar essa questão.
Mas precisamos ter em conta que o fracasso
educacional brasileiro inclui o sistema tradicional de vestibulares e toda a
economia cínica e embrutecedora que se aproveita dele. É um esquema pesadíssimo
de interesses financeiros que possui respaldos inclusive na mídia corporativa –
e não é por acaso que a sanha desqualificadora aplicada contra o exame federal
não se repete nos similares privados, igualmente repletos de estranhezas.
O Enem deve ser aprimorado, mas continua sendo a alternativa possível para um futuro menos trágico na formação da juventude.
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