Meu comentário sobre as besteiras de Lobão é
contraditório. Porque acho que elas deveriam ser soberbamente ignoradas. As
reações inflamadas, reproduzindo a grosseria intelectual que pretendem
combater, apenas repercutem o que não merece a rápida sinapse necessária ao
descarte.
Sempre admirei Lobão, um pouco pelas músicas, mas
principalmente por sua militância contra o sistema de gravadoras e jabás
radiofônicos. E também pela denúncia contra a hipocrisia nefasta da repressão aos
usuários de drogas, da qual foi uma vítima célebre. Que o músico personifique a
união dessa bandeira progressista com o repertório do antipetismo hidrófobo é evidência
de certa esquizofrenia programática amiúde abordada neste espaço.
Óbvio que ele tem sensibilidade e erudição
suficientes para saber que suas bravatas são rasteiras, que não suportariam
minutos de um debate sério. Mesmo a relevante questão dos incentivos fiscais a
artistas consagrados se perde no discurso tosco e simplificador. Talvez Lobão esteja
buscando reconstruir a própria figura pública, vestindo um figurino de
polemista indignado que satisfaça melhor suas necessidades
intelectuais e financeiras. Até que ponto essa é uma postura honesta, ou
coerente com sua trajetória profissional, cabe a ele mesmo e a seus fãs
descobrirem.
Resta-nos lamentar que se transforme em outro inocente
útil desse folclore ultra-reacionário que vem ganhando adeptos nas redes
sociais e na mídia corporativa. Mergulhando na estupidez recalcada por um
patológico ressentimento de classe, Lobão perde o último tufo de relevância que
ainda guardava. Décadence sans élégance, como diria o roqueiro de antanho.
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