Olivier Assayas observa a juventude revolucionária
que deflagrou o foco estudantil dos protestos que ficaram conhecidos sob a
alcunha de Maio de 68. Ou melhor, acompanha os rumos que tomou esse grupo
depois das famosas atribulações. E tece especulações sobre os adultos que ele
teria gerado.
É uma posição de respeito, quase generosa. Evita
julgamentos, porém, equilibrando a nostalgia e a decepção características dos
relatos autobiográficos. Os diálogos politizados e as muitas referências iconográficas
instigam reflexões sobre cultura, política, sexualidade, utopias
contraculturais.
Há citações mais ou menos explícitas da literatura
beat, da Nouvelle Vague, das artes plásticas, de episódios históricos marcantes.
O plano de certa personagem, recortado em moldura oval e inserido sobre a cena
maior, pareceu uma simpática homenagem a François Truffaut. Faz sentido,
especialmente se consideramos o que o detalhe sugere acerca da opção estética
do próprio Assayas.
A trilha sonora reúne tesouros ocultos do
imbatível repertório do período. O fundo musical onírico e a delicada fotografia de Eric
Gautier (dos filmes recentes de Fernando Meirelles) formam um conjunto
espantosamente harmonioso. Tudo muito bonito, sensual, poético, mesmo nas longas
seqüências de ação.
É interessante (e algo inevitável) compará-lo a
outras ótimas produções de temática similar, particularmente “Os sonhadores”(Bernardo Bertolucci) e “Amantes constantes” (Phillipe Garrel). Daí sobressai o
diferencial dos recortes sociológicos e intelectuais de Assayas, evidenciando
sua relevância e sua atualidade.
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