segunda-feira, 29 de julho de 2013

Em defesa da Copa
















Publicado no Outras Palavras

A adesão das comunidades locais às campanhas para sediar os jogos da Copa do Mundo explica a falta de resistência articulada, nos âmbitos e prazos adequados, que impedisse a construção de arenas. O apelo tardio às tais prioridades do país visa o núcleo social do apoio que o evento desfruta nas regiões contempladas, como prova o recurso populista de culpá-lo pela preservação de carências infra-estruturais que afetam os mais pobres.

É impossível afirmar que a inexistência do torneio traria verbas a setores historicamente desprezados, ou que o simples aporte financeiro resolveria o acentuado caráter gerencial da penúria. Por outro lado, as contrapartidas positivas geradas pela Copa vão muito além dos R$140 bilhões que ela injetará na economia do país. Basta imaginar o que seria hoje das nações européias em crise, por exemplo, sem as heranças educativas e sociais legadas pela indústria do turismo.

A demonização do investimento estatal na Copa ignora certas características essenciais da economia brasileira. O esforço para federalizar a imagem do dinheiro público envolvido inclui até empréstimos do BNDES, incentivos fiscais e subsídios da União, mecanismos que viabilizam os mais variados setores produtivos. Mesmo assim, a esmagadora maioria dos recursos vem de governos estaduais e municipais, sendo que em nove dos doze estádios a privatização do ônus é praticamente certa.

Mas há outras estupendas apropriações do erário, cotidianas e afrontosas, que escapam aos defensores de escolas e hospitais. Ocorrência menor, da seara esportiva: os R$ 5 bilhões devidos em tributos pelos “grandes” clubes de futebol. O quíntuplo do que é tido como escandaloso nas isenções do governo federal à Copa. Por que ninguém faz barricadas para impedir os jogos do Campeonato Brasileiro, manipulado pela TV Globo a favor desses mega-devedores e de seus elencos milionários?

Os torcedores indignados, principalmente os da crônica esportiva, vivem aplaudindo os membros dos cartéis organizados pela CBF, e agora repudiam os parcos benefícios que o banditismo futebolístico pode retribuir à coletividade. Esbravejam contra a FIFA, mas prestigiam a seleção midiático-empresarial que ela explora e financia. Vaiam os organizadores da festa e continuam fiéis a sua mitologia patriótica.

As manifestações críticas à Copa estão se afastando de pautas exeqüíveis, coerentes e representativas. A desmoralização do evento possui óbvias conotações institucionais, que apenas favorecem a arrogância exploratória de Joseph Blatter. A radicalização inconseqüente e os argumentos simplistas atraem contaminações ideológicas que não têm nada a ver com as necessárias denúncias de governos, empresas e cartolas. O máximo que piquetes em rodovias e estádios conseguem é prejudicar cidadãos e alimentar oportunistas que usam a mentira, o caos e o medo como estratégias eleitorais.

A polarização entre os apologistas do torneio criminoso e os visionários republicanos que o rejeitam é falsa e manipuladora. Não há contradição em defender uma Copa organizada, limpa e transparente, a valorização do turismo, o respeito à educação, à saúde e aos direitos humanos. Um pouco de inteligência nos debates ajudaria a agregar todas essas demandas legítimas. Mesmo que nenhuma delas prospere, já seria uma prova de maturidade política.

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