Faz sentido a constrangedora louvação da mídia ao
papa Francisco: se para ela o país vive em plena convulsão social, a
tranqüilidade da visita do pontífice chega a parecer um verdadeiro milagre.
Nenhum protesto bloqueou os passeios do santo homem. Não houve gritaria durante
as suas aparições, desacato organizado aos fiéis, enfrentamentos nos locais de
vigília. Sequer um indício de vaia.
Comparar biografias e cargos seria ridículo, mas
as circunstâncias provocam um paralelo entre a passividade perante Francisco e
o desrespeito contra Dilma Rousseff na abertura da Copa das Confederações. Ou
entre a preservação da festa religiosa e os ataques ao evento esportivo, ambos
de semelhante visibilidade mundial e respaldo financeiro controverso.
Ora, supondo corretas as explicações hegemônicas
para os apupos jecas dos torcedores, concluiríamos que os indignados políticos
aprovam o líder católico, ou pelo menos a instituição que ele representa.
Será que a juventude politizada esqueceu os inúmeros escândalos, de proporções e gravidades inéditas, que mancham a história do
Vaticano? Teria se convertido à agenda obtusa, homofóbica e reacionária do
catolicismo oficial? Guardaria um espaço para a fé e o misticismo nos seus
rígidos protocolos revolucionários? Anarquistas respeitando os símbolos e
interesses de um dos Estados mais antigos e inflexíveis do planeta? Guerreiros
intrépidos, acostumados a combater policiais ferozes, com medo de crentes
inofensivos?
Há muitas vias analíticas possíveis para abordar
essas contradições. Bem poucas, no entanto, explicam a tentativa de ignorá-las.
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