O assombro da grande mídia perante a espionagem
dos EUA na internet é tão hipócrita que chega a soar ofensivo. Não apenas
porque ninguém do ramo jamais acreditou no respeito à intimidade dos usuários,
mas principalmente pela tentativa de convencer o público de que a violação fere
algum código ético em vigor na rede. Como se apenas arapongas traficassem os
segredos alheios.
A internet é a materialização da distopia
controladora do Big Brother orwelliano: todos os dados pessoais de bilhões de
terráqueos concentrados no mesmo acervo, para acesso imediato e desimpedido. Não
há atividade cotidiana que fuja ao uso do suporte. Tampouco existe proteção eficaz das informações registradas nos interstícios dessa maquinaria, desde os
números bancários até a rotina de mensagens e pesquisas.
Qualquer instituição ou indivíduo com suficiente capacidade operacional pode esmiuçar referências cruzadas que chegam a padrões
de consumo, inclinações ideológicas, planos profissionais, perfis psicológicos
e assim para muito mais adiante. São conhecimentos inestimáveis, de alcance
inédito, que ultrapassa o prosaico nível comercial.
Supor que Google, Facebook, Apple e Microsoft não
utilizem esse potencial, ou não sejam usados por causa dele, é ingenuidade equivalente
a dissociá-lo do imenso poderio econômico desses grupos. Mas parece haver muita
gente que prefere os confortos modernos da inocência. Para alimentar ilusões revolucionárias através de empresas multinacionais que colaboram com governos é
mesmo necessária uma boa dose de credulidade.
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