Há pelo menos cinco anos existe um novelo de indícios irregulares envolvendo o metrô paulista. A mídia corporativa jamais
fez qualquer esforço para elucidá-los, apesar da repercussão internacional e da
natureza pública dos contratos. Os personagens citados não receberam os menores
questionamentos a respeito, sequer durante as campanhas eleitorais que
disputaram (e venceram).
Agora os veículos afirmam terem “revelado” a
falcatrua, arrotando pruridos éticos para evitar acusações infundadas. Primeiro,
não revelaram coisa alguma. Apenas se anteciparam à divulgação inevitável de fatos
que já conheciam ou deviam ter averiguado. E essa nova prudência é hipócrita,
pois contraria todas as coberturas de episódios que atingiram petistas de
maneira bem menos direta.
As tentativas da imprensa de encenar seu arremedo
investigativo só não são mais constrangedoras do que o vocabulário empregado
para aliviar a imagem dos governos tucanos. “Cartel”, por exemplo, concentra a
atenção nas empresas do conluio, assim como a tática de reduzir as apurações à Siemens.
Também a cuidadosa omissão do PSDB e de Mário Covas, José Serra e Geraldo
Alckmin. E a divertida insistência na palavra “suspeita” pretende mergulhar um
crime confesso na esfera das hipóteses.
Os próximos capítulos dessa comédia oscilarão
entre o silêncio perante o óbvio inadmissível e o teatro da descoberta do óbvio
indisfarçável. Em ambas as atitudes, o noticiário continuará colaborando o mínimo possível com as apurações oficiais, e menos ainda com o juízo público a
seu respeito. Mas essa súbita incompetência dos veículos não deixará de ser
reveladora por si só.
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