sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Balde de águas passadas

 




















Sim, foi uma vitória da racionalidade jurídica, e uma derrota do cinismo autoritário. Mas engana-se quem acredita que os embargos infringentes permitirão um desfecho equilibrado na Ação Penal 470. É tarde para isso. A sanha condenatória de Joaquim Barbosa já convenceu a esmagadora maioria do STF quanto ao cerne falacioso do chamado “mensalão”.

A falta de provas que acompanhou as principais condenações foge do alcance dos embargos e dificilmente será revista. E o sorteio do implausível Luiz Fux para a relatoria dos recursos não anuncia perspectivas alvissareiras. Tampouco, aliás, o fato de cinco ministros terem a audácia de negar aos réus um direito óbvio e indiscutível, reconhecido até mesmo pelo conservador Celso de Mello.

Um efeito colateral da nova fase, pouco citado, é sua contribuição para o adiamento do juízo sobre o “mensalão tucano”. Não que alguém no tribunal tenha mesmo a intenção de enfrentá-lo, mas dificilmente haverá melhor pretexto para que os crimes envolvidos prescrevam e a eterna impunidade do PSDB vire obra do acaso, ou, pior, seja creditada à impertinência dos bandidos petistas.

Outra utilidade incômoda dos recursos é legitimar as condenações sumárias, tecnicamente insustentáveis, da etapa inicial. Mesmo que elas não sejam sequer mencionadas, a imprensa corporativa transformará sua previsível manutenção numa evidência de que os réus tiveram tratamento “justo”. Ficará, assim, a falsa imagem de que foram agraciados com o duplo grau de jurisdição a que teriam direito. Não foram, mas parecerá o contrário.

Restam, porém, algumas possibilidades da militância progressista minimizar o prejuízo que Barbosa & Cia fatalmente imporão ao país. Uma é questionar os ministros acerca de algumas atitudes esquisitas do presidente do STF, em particular sua tentativa de esconder o misterioso inquérito 2454. Outra é realizar palestras e debates sobre o caso nas universidades, nos sindicatos, etc. Também seria útil saber o que pensam juristas e advogados notórios sobre as minuciosas reportagens e análises que desconstroem as teses da acusação.

Se os condenados têm alguma chance, mínima que seja, ela depende de uma efetiva mobilização dos seus defensores, algo que até agora não ocorreu com a força e os instrumentos necessários.

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