Como acontece com sintomática freqüência, e justo nos
episódios mais complexos, o leilão do Campo de Libra tem recebido um tratamento
rasteiro da mídia corporativa. As análises dos “especialistas” se dividem basicamente
em três linhagens simplificadoras: o nacionalismo radical, o liberalismo ressentido
e o catastrofismo tecnocrático.
Essas vozes se assemelham na reação estranhamente atrasada e no destaque recebido junto aos veículos, proporcional à intensidade das
críticas ao governo. Só importa convencer o público de que tudo foi mal feito,
minimizando os ganhos sociais das concessões e espalhando a absurda falácia de
que elas repetiram o modelo privatista demotucano.
Os nacionalistas se esquivam de responder sobre a
capacidade do país explorar sozinho o Pré-Sal e o papel da Petrobras no
consórcio vencedor. Os liberais, colonizados e provincianos, choram a ausência
de empresas estadunidenses e o protagonismo da estatal que já defenderam vender
a preço de banana. Os apocalípticos, oportunistas por natureza, oscilam entre a
condenação do modelo energético e um ceticismo quanto à eficácia do próprio
Poder Público.
O espetáculo de incoerências chega a níveis
divertidos. O leilão fracassou porque não fracassou. Perdemos porque ganhamos.
E por aí vai. Notem que, tomadas nas suas essências argumentativas, todas essas
vertentes se anulam, gerando uma espécie de não-evento, um vácuo de significados
racionais envolto por mau agouro.
Para construir uma opinião a respeito dos leilões,
talvez seja melhor formulá-la antes de recorrer à imprensa.
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