A questão do testes em laboratório com seres vivos
é espinhosa. Alguns procedimentos parecem mesmo cruéis e desnecessários. Mas
não podemos esquecer que se trata de um debate científico, e que os dilemas
éticos estão sempre a um passo do fanatismo.
O simples fato de a discussão envolver líderes
religiosos, artistas, celebridades e deputados que fazem campanha eleitoral
recorrendo aos “pobres animaizinhos” já demonstra que existe muita neblina esotérica nesse ambiente. A ignorância é uma benção, dizem, mas também pode ser
uma opção pragmática: ficaríamos chocados com os métodos produtivos de uma boa
maioria dos insumos de uso cotidiano. Mas jamais deixaríamos de medicar nossos
filhos, por mais sofrimento que a fabricação do remédio tenha causado a uns bichos
anônimos.
Existe um freqüente lapso entre a propaganda
civilizada pelo tratamento “humano” a certos mamíferos e o desrespeito
irracional contra bípedes implumes e falantes, com polegares opositores e todas
as características antropoformes que a lei diz merecerem no mínimo a mesma
solidariedade. Os amantes de beagles demonstrariam a solidez de sua causa se
também vestissem máscaras para arrombar um desses campos de concentração que
seus tributos sustentam em qualquer cidade do país.
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