Dizem que os jornalistas paulistanos,
particularmente os de televisão, detestam trabalhar no estádio Moisés
Lucarelli. Ouvem horrores, sofrem ameaças e às vezes retornam com veículos e
equipamentos avariados. Algumas celebridades teriam decidido até boicotar os
jogos no Majestoso. Os colegas de Campinas morrem de vergonha.
De fato, os pontepretanos são inflamados e
bastante hostis quando querem. E, óbvio, toda violência é imbecil e deve ser repudiada
e punida com rigor. Mas existem algumas ponderações necessárias sobre o tema.
Qualquer torcida do planeta comete barbaridades eventuais
contra a imprensa. São-paulinos, corintianos, palmeirenses e santistas
ultrajados partem para a ignorância da mesma forma. Acontece que os pimpões dos
estúdios na capital sabem do perigo próximo e evitam proferir certas bobagens
que possam revoltar os ogros locais. Costumam inclusive mimá-los em troca de
certo respeito no dia-a-dia profissional.
Ao mesmo tempo, esses comentaristas e
apresentadores se sentem livres para destilar preconceito, menosprezo e
antipatia contra os clubes interioranos. Talvez um pouco no embalo do bairrismo
característico da crônica esportiva, mas também porque se consideram protegidos
pela distância, os sabichões perdem os freios de um respeito que não economizam
ao tratar dos chamados “grandes”.
Essa postura não se resume a vitupérios
escancarados. A contínua reiteração da suposta superioridade dos times da
capital e de seus favoritismos imaginários, a omissão perante arbitragens safadas
e os elogios a um sistema de disputa que favorece os mais ricos também
constituem posturas que ofendem o sofrimento das vítimas.
É fácil (e correto) defender a liberdade de
expressão dos jornalistas, mas devemos lembrar que essa prerrogativa não serve
às próprias torcidas. Os protestos organizados nas arquibancadas são
sistematicamente reprimidos pela polícia, sob ordens da Federação Paulista de
Futebol. Não se permite exibir uma faixa condenando, por exemplo, a manipulação financeira dos campeonatos realizada pela rede Globo. Seria muita ingenuidade
esperar que povo sofresse calado e ordeiro, para não estragar a festa dos
painhos da metrópole.
Por isso tudo, mesmo brutal e condenável, a atitude
ofensiva dos torcedores do interior não deixa de ser compreensível, na medida
em que eles identificam os profissionais da mídia corporativa como adversários diretos
no âmbito do fanatismo clubístico. Em vez de cobrir sua hipocrisia tendenciosa
com o manto da civilidade pacificadora, a imprensa deveria ter a humildade de refletir
sobre seu próprio papel nesse círculo vicioso de ignorâncias.
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