segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Caldeirão















Dizem que os jornalistas paulistanos, particularmente os de televisão, detestam trabalhar no estádio Moisés Lucarelli. Ouvem horrores, sofrem ameaças e às vezes retornam com veículos e equipamentos avariados. Algumas celebridades teriam decidido até boicotar os jogos no Majestoso. Os colegas de Campinas morrem de vergonha.

De fato, os pontepretanos são inflamados e bastante hostis quando querem. E, óbvio, toda violência é imbecil e deve ser repudiada e punida com rigor. Mas existem algumas ponderações necessárias sobre o tema.

Qualquer torcida do planeta comete barbaridades eventuais contra a imprensa. São-paulinos, corintianos, palmeirenses e santistas ultrajados partem para a ignorância da mesma forma. Acontece que os pimpões dos estúdios na capital sabem do perigo próximo e evitam proferir certas bobagens que possam revoltar os ogros locais. Costumam inclusive mimá-los em troca de certo respeito no dia-a-dia profissional.

Ao mesmo tempo, esses comentaristas e apresentadores se sentem livres para destilar preconceito, menosprezo e antipatia contra os clubes interioranos. Talvez um pouco no embalo do bairrismo característico da crônica esportiva, mas também porque se consideram protegidos pela distância, os sabichões perdem os freios de um respeito que não economizam ao tratar dos chamados “grandes”.

Essa postura não se resume a vitupérios escancarados. A contínua reiteração da suposta superioridade dos times da capital e de seus favoritismos imaginários, a omissão perante arbitragens safadas e os elogios a um sistema de disputa que favorece os mais ricos também constituem posturas que ofendem o sofrimento das vítimas.

É fácil (e correto) defender a liberdade de expressão dos jornalistas, mas devemos lembrar que essa prerrogativa não serve às próprias torcidas. Os protestos organizados nas arquibancadas são sistematicamente reprimidos pela polícia, sob ordens da Federação Paulista de Futebol. Não se permite exibir uma faixa condenando, por exemplo, a manipulação financeira dos campeonatos realizada pela rede Globo. Seria muita ingenuidade esperar que povo sofresse calado e ordeiro, para não estragar a festa dos painhos da metrópole.

Por isso tudo, mesmo brutal e condenável, a atitude ofensiva dos torcedores do interior não deixa de ser compreensível, na medida em que eles identificam os profissionais da mídia corporativa como adversários diretos no âmbito do fanatismo clubístico. Em vez de cobrir sua hipocrisia tendenciosa com o manto da civilidade pacificadora, a imprensa deveria ter a humildade de refletir sobre seu próprio papel nesse círculo vicioso de ignorâncias.

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